A EMPRESA AUTOMOBILÍSTICA E A CADEIA PRODUTIVA DA CARNE
O mundo está passando pela fase, talvez a mais intensa, de uma orquestrada inversão de valores, afetando negativamente o cotidiano do cidadão e invadindo decisões corporativas. Há vil esforço de transformar materiais naturais e recicláveis em problema e poluentes em desejáveis produtos.
Empresas de valor global estão sendo envolvidas por falsas narrativas e, muitas das vezes contrariando seu DNA, sua história e seu compromisso com a credibilidade, assumem decisões ingênuas, ou quem sabe oportunistas, das quais tem grande chance de se arrependerem em não tão distante futuro. É o recente caso de uma empresa automobilística. Peça de marketing conceitualmente frágil, construída sobre falsa informação, expôs, desnecessariamente, a marca da empresa a elevado risco.
Ao dar publicidade à substituição do couro por materiais sintéticos no interior de todos os seus modelos elétricos, a empresa utilizou sua prerrogativa de escolher materiais para compor seus produtos, mas mal avaliou o dano que pode causar pela propagação da desinformação que a induziu ao erro.
Couro nunca foi vilão por ser natural, confortável e reciclável, exatamente o oposto dos materiais sintéticos selecionados pela empresa, não sustentáveis, não degradáveis e essencialmente poluidores.
Entende-se perfeitamente que a fracassada tentativa de transformar couro em poluente e em motivador de abates se originou na desesperada necessidade de determinadas organizações protetoras de animais em promover suas ações, para o que utilizam todo e qualquer argumento, seja ele verdadeiro ou não.
Obviamente que a empresa conhece as relações de mercado e sabe que os abates são resultados exclusivos da demanda por alimentação. Não desconhece também que não há qualquer relação entre uso de couro e mal estar animal.
Substituir couro por material reciclado de garrafas PET, uma das líderes na arte de poluir, é reduzir o valor agregado de seu produto e trocar solução por futuro problema ambiental. Quando esse material for descartado e passar a integrar a legião de lixo poluente, não trará consigo sua marca. O modelo revela atitude nebulosa e ambientalmente danosa no despojo. A satisfação do iludido comprador representará alto custo ambiental para o planeta.
Decidir com modismos, especialmente os de base opaca, coloca a marca em elevado risco de credibilidade.
Infelizmente, a empresa, exemplo de inovação, tecnologia, segurança e conforto, tornou-se vítima de bem orquestrada ação de convencimento estruturada em práticas limitadas pelo politicamente correto, induzindo a empresa a um equívoco de dimensões proporcionais ao tamanho da organização, que certamente lhe proporcionará retorno compatível com a responsabilidade de sua decisão.
Não é necessária bola de cristal, nem premonição, para antecipar que inconsequentes imbróglios dessa magnitude não se limitarão à matéria-prima couro e certamente se ampliarão, com adaptação de formas, para outros segmentos da cadeia produtiva da carne.
Luiz Bittencourt – Eng. Metalúrgico/UFF; M. of Eng./McGill University/Montreal/Canadá; Pós-graduado em Comércio Exterior/Universidade Mackenzie/SP; Consultor em Relações Institucionais. [email protected]
Hélio Mendes – Consultor de Estratégia e Gestão, professor da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, com curso de Negociação pela University of Michigan, Gestão Estratégica pela University of Copenhagen e Fundamentos Estratégicos pela University of Virginia. [email protected] – www.institutolatino.com.br
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