Findas as eleições municipais em todo o país, os resultados revelam emblemática tendência que somente o sistema político, com sua teia de conexões convenientes e mesmo entendendo perfeitamente o recado das urnas, não permite o avanço na modernização política.
Na maior parte dos municípios brasileiros, os eleitores disseram um sonoro NÃO aos partidos políticos que, interessados em conquistar o poder a qualquer custo, se esqueceram de entender e buscar atender as aspirações do eleitorado.
Independente de primeiro ou segundo turno, as tendências se repetem e os eleitos não conseguiram a maioria dos votos. Considera-se sob o título Ninguém a soma das abstenções, votos nulos e votos em branco.
RESULTADOS SELECIONADOS DAS URNAS EM 2020
São Paulo e Rio de Janeiro = SEGUNDO TURNO
CIDADE | NINGUÉM | PREFEITO ELEITO | VARIAÇÃO % |
Barra do Pirai | 22.235 | 21.424 | 3,7% |
Barra Mansa | 49.333 | 43.323 | 13,8% |
Volta Redonda | 73.204 | 85.673 | -14,5% |
São Paulo | 3.647.901 | 3.169.121 | 15,1% |
Rio de Janeiro | 2.308.868 | 1.629.319 | 41,7% |
Percebe-se, claramente, que os candidatos selecionados pelos partidos políticos não atenderam às aspirações dos eleitores que, sem alternativa confiável, decidiram votar em Ninguém.
Volta Redonda destoou da maioria por características próprias: o candidato vencedor, ex-prefeito com gestões anteriores aprovadas pela população, possui considerável capital político e sua candidatura se desenvolveu sub júdice, rendendo-lhe bem explorada campanha de vitimização.
No município do Rio de Janeiro, Ninguém superou em 42% a votação do prefeito eleito, diferença mais do que suficiente para sugerir novas eleições com outros candidatos, por uma simples razão: o prefeito eleito foi rejeitado pela imensa maioria do eleitorado.
A vitória de Ninguém, em todos os municípios, significa que a próxima administração municipal será liderada por alguém não escolhido pela maioria dos eleitores, revelando sistema eleitoral injusto e incompatível com regime democrático.
E a conquista das prefeituras por Ninguém não foi muito maior porque o voto é obrigatório.
Os resultados das urnas em todo o país mostram, definitivamente, o cidadão brasileiro insatisfeito (diria até indignado) com o sistema político/eleitoral, sugerindo imediata reforma política abrangente o suficiente para tornar o voto facultativo, extinguir reeleição, eliminar fundos eleitoral e partidário, considerar o voto distrital, exterminar o foro privilegiado, eliminar aposentadorias de políticos, reduzir significativamente o número de parlamentares em todos os níveis, acabar com vice (vice-governador, vice-prefeito, etc.), entre outras demandas éticas e morais.
A sinalização se dá cada vez mais robusta, mas, em que pese todas as aspirações populares, não pode haver sequer razoável esperança, pois as reformas políticas serão realizadas pelos principais interessados, os políticos.