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CHANTAGEM AO COURO

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ECONOMIA

ARTIGO

Com Luiz Bittencourt e Hélio Mendes

CHANTAGEM AO COURO

Não bastasse a crise internacional por que passa a matéria-prima couro, alvo de ataques dos materiais concorrentes que tentam, utilizando falsas informações, desqualificar sua imagem e aviltar o seu preço, surgem agora focos ameaçadores de boicotes ao couro brasileiro, utilizando, de forma oportunista, retaliação a suposto recrudescimento nos incêndios na Amazônia.

Sobre a causa, há evidentes esforços, nacional e internacional, na propagação de desinformação. O período de seca dominante na Amazônia torna o mês de agosto privilegiado incentivador da ocorrência de focos de incêndio, tendo havido 27,5 mil nesse mês. Elevada quantidade é verdade, porém análise estatística revela índices que não extrapolam a curva normal. Percebe-se, então, exagerada preocupação internacional com os eventos amazônicos, aproximando-se, sem aparente motivo, da obsessão.

Sobre o efeito, é preciso, inicialmente, considerar que as ameaçadoras empresas são baseadas nos EUA, país cuja demanda por couro brasileiro não é muito elevada, girando ao redor de 10% da exportação anual brasileira de couro.

Por outro lado, os EUA decidiram, há muito e por questões econômicas, terceirizar alhures todo o processamento de seu couro verde, utilizando a mais barata mão-de-obra asiática para promover necessária reciclagem e consequente agregação de valor ao couro norte-americano.

Já do lado de cá, o couro brasileiro é exportado sob rigorosa avaliação de conformidade. Quando se identifica que os exportadores brasileiros de couro possuem, no grau ouro, as certificações requeridas pelo exigente mercado internacional, a componente política do boicote se sobressai.

Quando se verifica que o boicote se mantém mesmo, acreditem, sendo o couro brasileiro um dos mais baratos do planeta, novamente a componente política se projeta. Quando, ao se provar que não há couro brasileiro, entre os adquiridos pelas empresas aderentes ao boicote, que seja originário da região Amazônica, e a retaliação ainda assim é mantida, revela-se aqui a ultrapassagem dos limites políticos e nos vemos diante de insidiosa chantagem.

Esse leviano ato é parte de uma estratégia que, no enfrentamento da intensa crise internacional que desvaloriza a matéria-prima, direcionou o jogo para a busca por espaços na comercialização dos couros, abrangendo novas e astuciosas decisões, incluindo chantagens.

Todos esses elementos traduzem, mais do que a relação político/comercial, reação à oportunidade pelo estabelecimento de temporário desequilíbrio, visando consolidar novo perfil na oferta de couro.

O insensato ato promove, ainda, inconveniente efeito colateral, tornando a chantagem exemplo de saudável atitude, mesmo tendo sido deliberada sob falsa informação.

Intempestiva divulgação de resoluções como essa prejudica as negociações, sugere indesejada generalização e afeta, desnecessária e negativamente, os demais elos da cadeia produtiva.

O mercado precisa de rápida solução para esse imbróglio.

Luiz Bittencourt, Engenheiro Metalúrgico pela UFF; Master of Engineering pela McGill University, Montreal, Canadá e pós graduado em Comércio Exterior pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Diretor da LASB Consultoria. Contato: e-mail: [email protected]

Hélio Mendes, Professor e Consultor de Planejamento Estratégico e Gestão nas áreas privada e pública. Contato: www.institutolatino.com.br

Luiz Bittencourt e Hélio Mendes são Consultores Especialistas em Relações Institucionais e Governamentais.

www.revistadiaria.com.br

[email protected]

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