A Revista Diária entrevista hoje um dos nossos colaboradores, o professor e consultor Hélio Mendes, especialista em política e estratégia, que atua como consultor de setores e de grandes empresas na área de planejamento estratégico e gestão. O tema é “China: ameaça ou oportunidade para o Brasil?”.
- Quem é a China de hoje?
Hélio Mendes: A China é o dragão que acordou, uma nação com uma cultura milenar, sofrida, com a maior população do mundo, que em apenas 46 anos passou de país pobre a segunda potência mundial em muitas áreas e o primeiro no campo econômico.
- A China é um bom exemplo para o Brasil?
Hélio Mendes: Não, por vários motivos: o crescimento não é sustentável, foi conseguido com uma população trabalhando até 15 horas por dia, sem respeito ao meio ambiente; não tem governo, mas um partido detentor do poder; um povo sem liberdade – e infelizmente tem influenciado a maioria dos países da África e da América do Sul.
- A China hoje é o maior parceiro comercial do Brasil. Como analisa essa situação?
Hélio Mendes: A China para o Brasil, no curto prazo, é uma oportunidade, mas, no médio, é uma ameaça anunciada. A geopolítica tem várias facetas. Para se expandir e controlar outros territórios, um país pode agir através de uma guerra, como está acontecendo entre Rússia e Ucrânia, China ameaçando Taiwan; ou investindo em setores estratégicos – como europeus, russos e chineses já estão fazendo em vários países da África e da América do Sul.
- Pode acontecer no Brasil?
Hélio Mendes: Já está acontecendo. A China precisa de alimentos, de recursos naturais e de mercado para seus produtos, a fim de sobreviver. As duas regiões em que ela pode obter isso com certa facilidade são a África, com nível altíssimo de pobreza e governos fracos, onde os chineses, em menos de 20 anos, passaram a controlar 14% do PIB do continente, com mais de 3 mil investimentos e empresas dominando as áreas estratégicas; e o Brasil, onde desde 2007 realizaram 176 investimentos estratégicos, estão presentes em 23 dos 27 estados da Federação e, em 2021, foram responsáveis por 50% do nosso comércio exterior. E só investem em áreas estratégicas.
- Por que estamos nessa situação?
Hélio Mendes: Primeiro não temos que culpar os chineses – eles estão adotando as práticas das quais já foram alvo no passado. É o que a História registra, ou seja, as nações fortes procuram se fortalecer por meio da expansão. Estamos assim porque temos um Congresso fraco, um Supremo politizado; parte da elite empresarial não tem compromisso com o País; predominam práticas patrimonialistas; e um povo que não sabe votar.
- O que os brasileiros têm que fazer?
Hélio Mendes: As nossas lideranças precisam entender que somos uma grande nação. A população deve permanecer unida, eleger pessoas corajosas, patriotas, honestas e que entendem a dinâmica da geopolítica. E prepararmo-nos para a guerra, se queremos paz. A China não será uma ameaça, pode continuar sendo boa parceira, se tivermos bons representantes, Forças Armadas bem equipadas e as lideranças seguindo um Projeto de Nação. Caso contrário, corremos o risco de perder a nossa soberania.