COMMODITY POSSUI VALOR AGREGADO
Há, nitidamente, um forte preconceito com as commodities, base da economia global. O estereótipo foi criado, levando a palavra commodity a ser utilizada para reduzir a importância de alguma matéria-prima ou para se referir a material com baixo valor agregado. O equívoco é evidente por abrigar generalização, deturpada por exagero.
Não se questiona a importância da commodity e há incontáveis exemplos. Sem urânio, usina nuclear não opera. Sem boi, não há carne, nem suas butiques. Sem minério de ferro, não há aço e todos os seus benefícios. E tantos outros.
É sabido, mas não se comenta, que nem todas as commodities são matérias-primas básicas, com pouco processamento.
Um boi, por exemplo, requer do pecuarista cerca de 21 meses no pasto, consumindo investimentos, espaço, manutenção de pastagens, alimentação controlada e muitas horas de dedicação.
Esse mesmo animal permanece menos de uma semana no frigorífico e no varejo, ponta final da cadeia produtiva, sua permanência pode ser medida em horas.
Esse modelo, onde o tempo de permanência do produto vai se reduzindo à medida que avança nos elos da cadeia, se reproduz para café, soja, couro, minério e várias outras matérias-primas. E para completar, as margens são diretamente proporcionais ao avanço na cadeia produtiva. Elos iniciais, margens estreitas; elos finais, margens maiores.
Em mais um exemplo do agronegócio, o produtor rural utiliza na lavoura tanta tecnologia quanto a indústria, e muito mais do que o varejo, não sendo reconhecido até mesmo por alguns que conhecem e lidam com o campo.
No Brasil, o ambiente é ainda mais adverso. A produção sustentável destina ao produtor rural brasileiro obstáculos que ultrapassam os riscos da natureza, ao preservar reservas e nascentes, tendo parte de seu patrimônio “desapropriada”, sem direito a indenização, mas com a responsabilidade de mantê-la. Surreal.
Com todos os entraves, ainda assim a matéria-prima nacional é competitiva. Basta avaliar o sucesso brasileiro no mercado global de commodities, concorrendo com as principais economias do planeta, êxito alcançado com base na gestão, no valor intrínseco do material e, importante admitir, no valor embarcado.
Como se não bastasse não ter sua adição de valor reconhecida, o modelo vigente retira do empreendimento inicial da cadeia o poder da precificação, limitando-o a participação por sobrevivência.
A verdade deve ser resgatada: commodity, não necessariamente, significa produto sem valor agregado.
Luiz Bittencourt – Eng. Metalúrgico/UFF; M. of Eng./McGill University/Montreal/Canadá; Pós-graduado em Comércio Exterior/Universidade Mackenzie/SP; Consultor em Relações Institucionais; Diretor da LASB Consultoria –[email protected]
Hélio Mendes – Consultor de Estratégia e Gestão, professor da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, com curso de Negociação pela University of Michigan, Gestão Estratégica pela University of Copenhagen e Fundamentos Estratégicos pela University of Virginia. [email protected] – www.institutolatino.com.br