ECONOMIA
Com Luiz Bittencourt e Hélio Mendes
Couro brasileiro e 2020
Como há muito não acontecia, a economia brasileira oferece para 2020 extraordinárias expectativas.
Indicadores nacionais permitem prever avanços antes inimagináveis: inflação sob controle ao redor de 3,5%, Bolsa de Valores batendo sucessivos recordes e ultrapassando os 110 mil pontos, taxa de juros Selic em 4% e com viés de queda, PIB em ascensão (reflexo da recuperação industrial) atingindo 2% (após seis anos de estagnação e recessão), acelerado processo de privatizações, infraestrutura em franca restauração, desemprego em queda, reformas fundamentais em debates e em tramitação alicerçam virtuoso cenário para 2020.
Acordos comerciais internacionais estão sendo firmados e a paridade do dólar americano sinalizando novo patamar, acima de R$ 4,00, contribuem para ganhos competitivos nas exportações.
Consequentemente, cresce a confiança nas políticas oficiais, elevando o otimismo empresarial e estimulando ambiente para o fortalecimento das atividades econômicas, ofertando consistentes oportunidades para a indústria, comércio e agronegócio.
Convém ainda observar que o Estado está progressivamente reduzindo sua participação na economia, extinguindo empréstimos subsidiados, incondicionais apoios financeiros e incentivos fiscais, impondo imediato redirecionamento para o mercado privado das atividades de captação de recursos das empresas.
Nesse previsível cenário, diversos segmentos industriais ostentam positivas estimativas: setor siderúrgico elevará a produção de aço em 5%, Brasil manterá a liderança nas exportações globais de soja e carne aumentará em 10% suas exportações.
No geral, 2020 será muito bem vindo.
Contudo não há, em princípio e infelizmente, estimulantes perspectivas para o setor curtidor brasileiro.
De 2014 para cá, o couro brasileiro perdeu 63% do espaço internacional, resultado de sua escolha pelos investimentos (designers, campanhas, feiras e eventos) institucionais no mercado doméstico, destino responsável por somente 10% de seu produto e sem perspectiva de recuperação no curto prazo.
Concorrem também para esse desastre, a insensata negligência com as frequentes mudanças comportamentais que o mundo vem sofrendo, agravadas pela consequente perda de concorrência para os materiais alternativos, plásticos em sua maioria, e pelos regulares e orquestrados ataques ao couro pelos veganos e defensores do bem-estar animal.
Enquanto isso, o mercado internacional, destino de 90% do couro nacional, vem sendo contemplado com ações, insuficientes sequer para a manutenção do espaço conquistado.
E temos, então, assistido o gradativo abatimento do setor, sem palpável perspectiva de inflexão.
A recuperação do ambiente de negócios do Brasil certamente contribuirá para transformar 2020 no turning point da indústria de couro nacional.
Para isso, favorecerá open minded institucional, compromissado com uma radical reformulação de métodos e conceitos, direcionando o foco para a inovação nos produtos e nas atitudes, para a recuperação da qualidade e da imagem do produto e para a revitalização de seu poder de competir no mercado internacional.
A conjuntura não admite ação descartável, incluindo a decisão de, constatando-se renitente incapacidade de concorrer, utilizar clarividente lógica que albergue criativa união com o concorrente.
A pior das hipóteses será a confortável manutenção do status quo circunscrito a inversões domésticas comprovadamente ineficazes, alimentando inoportuno ocaso de uma indústria pujante por excelência.
Luiz Bittencourt – Eng. Metalúrgico/UFF; M. of Eng./McGill University/Montreal/Canadá; Pós-graduado em Comércio Exterior/Universidade Mackenzie/SP; Consultor em Relações Institucionais; Diretor da LASB Consultoria –[email protected]
Hélio Mendes – Professor e Consultor de Planejamento Estratégico, Gestão Quântica e Gestão nas áreas privada e pública – www.institutolatino.com.br
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