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DO ORÁCULO DE DELFOS AO ORÁCULO DA PRAÇA DOS TRÊS PODERES

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Do Oráculo de Delfos ao Oráculo da Praça dos Três Poderes

Era uma vez, num tempo em que a poeira da história ainda se assentava sobre as sandálias dos homens, os destinos das nações eram tecidos em fios de mistério e divindade. Reis e imperadores, com suas coroas pesadas e seus olhares inquietos, não se atreviam a mover um dedo sequer sem antes curvar-se diante dos oráculos. A fumaça do incenso subia aos céus, as pitonisas entravam em transe, e das profundezas de Delfos ou de qualquer outro templo sagrado, a voz dos deuses ecoava, definindo guerras, pactos e o pão de cada dia. A palavra divina era lei, inquestionável, o norte absoluto para o leme da vida pública.

Então, Roma, em sua sagacidade e sua ânsia por ordem, deu um passo ousado. Cansada da ambiguidade dos augúrios e da volubilidade dos presságios, a Urbe Eterna decidiu que o destino deveria ser forjado pelas mãos humanas.

Nasceu a política, com seus senadores eloquentes, suas assembleias barulhentas e seus debates infindáveis. O poder de decidir migrou dos céus para as ruas, das nuas divindades para os homens engravatados (ou, à época, togados). E assim foi, por séculos e séculos, a política, em sua essência democrática, mesmo com seus tropeços e suas tiranias, manteve-se como o palco onde os destinos das nações eram traçados por aqueles a quem o povo, de alguma forma, conferia esse direito.

Pulamos alguns milênios e desembarcamos no Brasil. Aqui, onde o tempo parece ter seu próprio ritmo e a lógica, às vezes, decide tirar férias, a tradição democrática parece ter sido virada do avesso do avesso. Se antes os oráculos eram o único farol, e depois a política assumiu a primazia, no Brasil de hoje, testemunhamos um fenômeno curioso e, para alguns, alarmante. A caneta que outrora era dos representantes eleitos, das assembleias que deveriam refletir a vontade popular, parece ter escorregado para outras mãos.

Eis que surge, no cenário político brasileiro, um novo oráculo. Não mais um templo em ruínas ou uma sacerdotisa em êxtase, mas sim um tribunal, e mais especificamente, um de seus ministros. O Supremo Tribunal Federal, em particular sob a liderança do Ministro Alexandre de Moraes, parece ter assumido o papel de definidor dos destinos da nação, um verdadeiro oráculo maior. Decisões que antes seriam fruto de debates no parlamento, de acordos entre as forças políticas, ou de plebiscitos que sondassem o humor do povo, agora emanam, muitas vezes, de monocráticas sentenças.

É uma inversão irônica da história.

Enquanto a humanidade avançava da crença cega nos desígnios divinos para a racionalidade da política, o Brasil parece trilhar um caminho em que a política é eclipsada por uma instância que se autoproclama a voz derradeira. O que era um avanço da autonomia humana na tomada de decisões, parece ter se transmutado numa nova forma de oráculo, onde a palavra final não vem dos deuses, nem dos eleitores, mas de um poder que se julga acima dos demais.

A poeira da história continua a se assentar, mas, no Brasil, ela parece cobrir os princípios mais elementares da democracia, enquanto a nação aguarda, com apreensão, os próximos vereditos do seu “oráculo” contemporâneo.

 

Persio Isaac
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A VISÃO MAQUIAVÉLICA DA POLÍTICA: REALISMO CRU E A NATUREZA HUMANA

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