- PUBLICIDADE -

ENTRE A CORRUPÇÃO E A MORALIDADE

- PUBLICIDADE -

O nó na garganta se aperta cada vez que escuto essa frase. Ela paira no ar como um miasma, uma justificativa torpe para a desonestidade, um atestado de falência moral que ecoa pelas esquinas do Brasil. “Ele rouba mas faz”.

Que lógica perversa reside nessa resignação? Que abismo de descrença nos levou a normalizar o ilícito em troca de migalhas de progresso?

Os votos que carregam essa premissa são como sementes de ervas daninhas plantadas no solo da nossa democracia. Germinam a cultura da impunidade, a ideia de que os fins justificam os meios, mesmo que esses meios sejam trilhados pela lama da corrupção. É um pacto silencioso, viciado, onde a ética é barganhada por obras, muitas vezes superfaturadas, entregues a conta-gotas, como esmolas de um poder que se alimenta da própria transgressão.

Que sentido têm esses votos? À primeira vista, parecem pragmáticos, um cálculo frio entre o ideal e o possível. Diante de um sistema carcomido, onde a honestidade muitas vezes parece sinônimo de inércia, alguns eleitores se agarram à ilusão de que a roubalheira, desde que acompanhada de alguma ação visível, é um mal menor. É a aceitação amarga de que a perfeição é inatingível, e que um ladrão “eficiente” é preferível a um santo inoperante.

Mas essa lógica é capciosa, um engodo que nos aprisiona em um ciclo vicioso. A corrupção não é um imposto inevitável sobre o progresso; ela é um câncer que metastiza, corroendo as instituições, desviando recursos que poderiam ser investidos em saúde, educação, segurança. O “faz” de hoje é invariavelmente menor e mais caro do que seria em um ambiente de probidade. E o “rouba” de agora mina a confiança no futuro, perpetuando a descrença e abrindo caminho para novas formas de desonestidade.

Esses votos carregam consigo uma profunda desesperança, um cansaço cívico que se rende à mediocridade. É como se a sociedade brasileira, exausta de promessas vazias e escândalos recorrentes, tivesse jogado a toalha, aceitando a corrupção como um componente intrínseco do poder. Mas essa aceitação é um veneno lento, que nos anestesia para a dimensão da perda, para o potencial desperdiçado, para a sociedade mais justa e equitativa que poderíamos construir.

O sentido desses votos, portanto, é um sentido trágico. É o sintoma de uma democracia enferma, de uma cidadania fragilizada pela descrença e pela falta de alternativas críveis. É o eco de um passado de impunidade que assombra o presente e hipoteca o futuro. Votar em quem “rouba mas faz” é perpetuar a lógica perversa de que o poder está acima da lei, de que a moralidade é um luxo dispensável.

É urgente romper esse ciclo. É preciso resgatar a crença na possibilidade de uma política honesta e eficiente, onde o bem comum seja o norte e a probidade, a regra. Os votos que realmente farão a diferença são aqueles que clamam por ética, por transparência, por um futuro onde a frase “ele rouba mas faz” seja ouvida com o mesmo repúdio que uma confissão de barbárie.

Porque a moralidade não é um ideal abstrato, mas o alicerce de uma sociedade justa e digna. E sem ela, qualquer “fazer” será sempre maculado pela mancha indelével da corrupção.

PERSIO ISAAC RD
"O conteúdo deste artigo reflete apenas a opinião do autor e não necessariamente as
 opiniões do Portal REVISTA DIÁRIA, que não se responsabiliza por qualquer dano ou
 erro que possa surgir do uso das informações apresentadas neste artigo. Ao acessar
 e ler este artigo, você concorda em que REVISTA DIÁRIA não se responsabiliza por 
quaisquer danos diretos, indiretos, acidentais ou consequentes que possam surgir do
uso das informações contidas neste artigo. Você concorda que é responsável pelo uso
que fizer destas informações e que o blog não tem qualquer responsabilidade por 
quaquer erro, omissão ou imprecisão."

SUGESTÃO DE LEITURA: https://revistadiaria.com.br/artigos-e-opiniao/a-teia-tenue/

A TEIA TÊNUE

 

- PUBLICIDADE -

Últimas notícias

Notícias Relacionadas