As exportações brasileiras da segunda metade dos anos 90 giravam ao redor de US$ 50 bilhões e a meta, ousada para a ocasião, era dobra-las. O elevado e constante crescimento econômico da China, a globalização e a explosão mundial das commodities, na segunda metade dos anos 2000, acabaram por quintuplicar as exportações nacionais.
EVOLUÇÃO DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
US$ bilhões
Nesse período, as exportações registraram aumento na participação de produtos primários, revertendo a tendência do padrão exportador. Há quem não descarte o diagnóstico da Doença Holandesa (fenômeno de valorização internacional de bens primários, alavancando suas exportações e causando desindustrialização) no Brasil, pela explosão da demanda asiática por bens primários, no início do século XXI, estimulando a reprimarização da pauta exportadora brasileira.
O fato é que o país vem sendo submetido à resistente processo de desindustrialização, cujas causas não podem descartar a crescente demanda internacional por matéria-prima. A série histórica dessa avaliação começa com participação de 60% de produtos manufaturados nas exportações brasileiras, chegando a 2021 com somente 26%, um dos sintomas da Doença Holandesa que, para ser caracterizada necessitaria ainda de pauta de exportação commoditizada e taxa de câmbio apreciada.
Também nesse período, com um quinto da população do planeta, a China deixou de ser a sexta economia mundial para ser a segunda (com possibilidade de ser a primeira, em prazo não tão longo) e, como tal, alavancou sua demanda por matéria-prima para abastecer seu parque manufatureiro.
Como consequência, as exportações brasileiras para a China imediatamente se primarizaram e ganharam intensa aceleração.
DESTINOS SELECIONADOS DAS EXPORTAÇÕES BRASILEIRAS
US$ bilhões
O crescimento vem sendo extraordinário. As exportações para a China, que em 1997 representavam 2% das exportações brasileiras, passaram a representar 32%, em 2021, com crescimento em US$ ao redor de 9.000%, transformando a China no principal parceiro comercial do Brasil.
A China importa do Brasil, preferencialmente, minério de ferro, soja, óleos brutos de petróleo, carne bovina e celulose, construindo, em 2021, o superavit brasileiro de US$ 40 bilhões na balança comercial entre os dois países.
Por sua vez, as exportações para a União Europeia, que em 2007 representavam 22% das exportações brasileiras e o triplo das exportações para a China, hoje representam 13% das exportações brasileiras e um terço das exportações para a China.
O confronto iniciado no Leste Europeu vem exigindo revisão no planejamento para determinados segmentos. Contudo, exercerá maior impacto imediato nas exportações brasileiras, a escalada no preço das commodities do que a guerra da Ucrânia, envolvendo mercados (Rússia e Ucrânia) que juntos se responsabilizaram em 2021 por somente 0,6% das exportações brasileiras.
Na realidade, o conflito afetará indiretamente as exportações pela indisponibilização de determinados insumos fundamentais para a produção nacional, como fertilizantes.
A previsão do mercado considera aumento nas exportações em 2022, acrescentando, ainda, superavit na balança comercial brasileira superior a US$ 70 bilhões, ultrapassando o recorde de US$ 61 bilhões obtido em 2021.
Luiz Bittencourt – Eng. Metalúrgico/UFF; M. of Eng./McGill University/Montreal/Canadá; Pós-graduado em Comércio Exterior/Universidade Mackenzie/SP; Consultor em Relações Institucionais.