O AVANÇO DA DESINDUSTRIALIZAÇÃO
O fortalecimento das commodities no Brasil foi um fenômeno ancorado em diversos fatores favoráveis, como por exemplo as características territoriais nacionais.
Grande extensão de terra com solos agricultáveis e clima propício a escala de produção, aliada a significativas reservas de petróleo e de minérios, com extrações economicamente viáveis, transformaram-se em vantagens comparativas do Brasil.
A união desses privilégios com a entrada de países emergentes na economia global, especialmente da China, com forte demanda por produtos básicos e trazendo perspectivas de ganhos excepcionais, encorajou o foco oficial nas commodities e tornou o país susceptível à doença holandesa (exportação de recursos naturais e declínio do setor manufatureiro).
Todos os mencionados fatores contribuíram para que a indústria nacional tivesse a sua disposição uma limitada estrutura de competitividade, o que reduziu de 56% para 35% nos últimos 15 anos, a participação dos manufaturados nas exportações brasileiras.
Fenômeno que não ocorreu em escala global pois, mesmo com quedas temporárias resultantes de adequações do mercado a novos cenários, manteve, no mesmo período, o nível de 74% (Banco Central do Brasil).
Hoje, a participação dos manufaturados nas exportações brasileiras não alcança a metade do que o planeta realiza, resultando em avassaladora queda da participação da indústria no PIB nacional.
Retrospecto elaborado por Paulo Morceiro mostra, com clareza, que o auge da indústria brasileira ocorreu no período compreendido entre 1968 e 1985, espaço de tempo representado pelo regime militar.
A partir do governo Sarney (1986), a desindustrialização se iniciou e se estendeu até o primeiro mandato de Fernando Henrique Cardoso. Houve tímida tentativa de recuperação no segundo mandato de FHC, porém a participação da indústria no PIB brasileiro despencou de vez nos governos Lula e Dilma.
Esse desastre desembocou no desemprego e foi resultado da excessiva carga tributária e sua complexidade, da burocracia, dos custos trabalhistas, dos juros estratosféricos (elevando o custo do capital), da política cambial (usada como instrumento anti-inflacionário e não para o desenvolvimento), da insuficiente e degradada infraestrutura, da baixa qualificação da mão-de-obra (reduzindo a produtividade), da insegurança jurídica, enfim, da ausência de uma efetiva e abrangente política de estado.
Luiz Bittencourt – Eng. Metalúrgico/UFF; M. of Eng./McGill University/Montreal/Canadá; Pós-graduado em Comércio Exterior/Universidade Mackenzie/SP; Consultor em Relações Institucionais; Diretor da LASB Consultoria –[email protected]
Hélio Mendes – Consultor de Estratégia e Gestão, professor da Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, com curso de Negociação pela University of Michigan, Gestão Estratégica pela University of Copenhagen e Fundamentos Estratégicos pela University of Virginia. [email protected] – www.institutolatino.com.br