O debate entre os candidatos à Presidência da República ocorrido ontem e organizado pela TV Bandeirantes foi mais um passo no processo eleitoral de 2022 e, como inovação, apresentou um novo formato mais eficiente ao permitir que cada candidato administrasse seu tempo de 15 minutos, em dois blocos do programa.
Sem intervenções de jornalistas, a conversa se tornou coloquial e os protagonistas livres para escolher os temas e o tom do debate.
Envolvendo dois candidatos com realizações no cargo que disputam, um ex-Presidente e o atual Presidente, suas trajetórias favoreceram a discussão sobre seus feitos, em detrimento do que se propõem a fazer no mandato em disputa. Portanto, o debate foi, naturalmente, preenchido pelo passado, com pouca luz sobre o futuro.
Quando o modelo se define por comparar os passados, o ex-Presidente fica em enorme desvantagem.
Não há qualquer dúvida sobre a dimensão da corrupção que grassou durante seus mandatos.
A má gestão das estatais é também um símbolo dos governos do ex-Presidente. Enquanto todas as empresas estatais deram gigantescos prejuízos durante os mandatos do ex-Presidente, as mesmas empresas entregam enormes lucros na gestão atual. E nem será preciso falar dos Fundos de Pensão.
No setor de obras, a administração do ex-Presidente se caracterizou por iniciar e não terminar obras faraônicas, especialmente no complexo petroquímico (a Comperj de Itaboraí é um triste exemplo), enquanto a atual administração terminou a Transposição do Rio São Francisco, revolucionou a infraestrutura brasileira, fez concessões de portos, aeroportos e rodovias, contribuindo para a reindustrialização do país.
A pandemia foi palco da maior transferência de recursos públicos da União para Estados e Municípios, garantindo aos entes federativos a autonomia para administrar de acordo com a necessidade de cada um.
Sobre o ensino no país, o debate tentou enveredar pelo ensino superior, mas não tratou da baixa qualidade de entrega da educação brasileira.
Na área social, a conversa se limitou ao Auxílio Brasil, com valor triplicado pela atual gestão, e discussões sobre eu fiz assim e eu fiz assado.
Portanto, o debate foi mais político e mais retrospectivo do que esclarecedor sobre o futuro.
Porém, faltou uma informação primordial para a avaliação do eleitor. Todas as realizações de qualquer governo, inclusive da área social, dependem da concordância de quem tem a chave do cofre: a área econômica.
Todos sabem quem será o Ministro da Economia na eventual reeleição do atual Presidente da República, mas ninguém sabe quem será na eventual eleição do ex-Presidente.
Um cheque em branco, com as amostras que temos do passado, convenhamos, representa inimaginável risco.