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O ETERNO RETORNO SOB O CÉU DE BRASÍLIA

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O vento que hoje açoita as palmeiras do Eixo Monumental parece carregar ecos de outros tempos. Não o rufar das bandeiras tricolores da Revolução, mas um murmúrio constante, quase um lamento, sobre a persistência de velhos vícios sob novas roupagens.

Lembro-me do lema incandescente gravado nos livros de história: Igualdade, Fraternidade, Liberdade. Palavras que incendiaram corações e guilhotinaram cabeças, reis e revolucionários, num paradoxo sangrento que a própria história se encarregou de ironizar.
A guilhotina, símbolo de uma justiça sumária e implacável, silenciou no pátio da história. Mas a decapitação, a do ideal, a da esperança genuína em uma sociedade mais justa, essa parece ter se perpetuado de outras formas.
O poder, antes concentrado na figura de um monarca, metamorfoseou-se, vestindo ternos bem cortados e discursando em palácios de vidro. A essência, contudo, teima em permanecer a mesma: a concentração, a influência nefasta do poder econômico que compra o poder político como quem adquire uma mercadoria qualquer na feira.
Fala-se em livre imprensa, mas a liberdade ecoa com um timbre abafado, condicionado pelos interesses dos grandes conglomerados, pelas narrativas convenientes ao poder de plantão. As vozes dissonantes lutam para romper o cerco, para furar a bolha da informação controlada, mas a ressonância é sempre menor, quase inaudível no coro dos que detêm os microfones.
E a nossa redemocratização, tão celebrada, tão aguardada? Serviu para quê, afinal? Para vermos os mesmos rostos, ou seus herdeiros, perpetuando-se nos cargos, tecendo teias de favores, desviando o dinheiro público para os bolsos dos apadrinhados, como se o erário fosse uma extensão de suas contas bancárias particulares.
A hiperinflação, felizmente domada, deixou cicatrizes profundas, a memória de um tempo em que o suor do trabalho evaporava em questão de dias. Mas a inflação da desconfiança, essa continua galopante.
Olho para Brasília, essa ilha de poder incrustada no coração do país. Tudo converge para cá: decisões, orçamentos, os destinos de milhões de brasileiros. Mas a distância entre os gabinetes refrigerados e a vida real, a vida que pulsa nas periferias, nos rincões esquecidos, parece abissal.
As promessas de igualdade soam como um mantra vazio diante das desigualdades gritantes que persistem, que se aprofundam. São séculos, como bem se disse, mantendo a mesma prática de concentração. Mudam os atores, mudam os cenários, mas o roteiro parece o mesmo: a luta pelo poder, a sua manutenção a qualquer custo, a dificuldade em construir uma nação onde a fraternidade e a liberdade não sejam apenas palavras bonitas empoeiradas nos livros.
Caminho por esta cidade planejada, grandiosa em sua arquitetura, mas por vezes tão pequena em suas ambições. Observo os semblantes cansados dos que aqui trabalham, a pressa dos que circulam pelos corredores do poder. E me pergunto quando, de fato, o espírito daquela Revolução distante, com seu idealismo e sua violência, encontrará uma tradução genuína em terras brasileiras. Quando a guilhotina da desigualdade e da corrupção será finalmente silenciada, não pela força bruta, mas pela força de uma cidadania consciente e engajada.
Enquanto isso, o vento continua a soprar em Brasília, carregando consigo a melancólica constatação de que, sob o céu azul da capital, o eterno retorno de certos vícios teima em nos lembrar que a jornada rumo a uma sociedade verdadeiramente justa e fraterna ainda é longa e tortuosa. E que o lema nobre, por enquanto, ressoa mais como uma aspiração distante do que como uma realidade palpável.
São aspirações nobres de uma sociedade que desencantada ainda acredita na plena Democracia. Mas para os Donos do Poder a Democracia são apenas negócios.

 

SUGESTÃO DE LEITURA: https://revistadiaria.com.br/artigos-e-opiniao/o-cristianismo-primitivo-de-jesus-cristo/

O CRISTIANISMO PRIMITIVO DE JESUS CRISTO

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