- PUBLICIDADE -

O MITO DO ANEL DE GIGES

- PUBLICIDADE -

Narrado por Platão em “A República”, ecoa com uma ressonância perturbadora na tapeçaria complexa da realidade política brasileira.

Giges, um pastor a serviço do rei da Lídia, encontra um anel com o poder de torná-lo invisível. Livre das amarras da observação alheia, ele rapidamente sucumbe à sua natureza mais sombria: seduz a rainha, assassina o rei e assume o trono.
A alegoria planta uma questão fundamental: a moralidadeseria intrínseca ao ser humano ou apenas uma fachada imposta pelo medo da punição e da reprovação social?
Transportemos esse anel mágico para o cenário político do Brasil.
Imaginemos a invisibilidade como a ausência de transparência, a opacidade dos processos decisórios, a blindagem proporcionada por cargos de poder e alianças obscuras. Quantos “Giges” tupiniquins, investidos de uma espécie de anel invisível metafórico, não sucumbiriam à tentação de seus próprios interesses em detrimento do bem comum?
A história recente do Brasil é pontuada por escândalos de corrupção em todos os níveis de governo. Desvios de verbas públicas, compra de votos, tráfico de influência – um desfile de transgressões que, em muitos casos, prosperam na penumbra da impunidade. A ausência de uma fiscalização eficaz, a lentidão da justiça e a complexidade labiríntica da burocracia criam, para alguns, a ilusão de invisibilidade, a crença de que seus atos não terão consequências.
O poder, como o anel de Giges, pode corromper, e o poder absoluto corrompe absolutamente, já dizia Lord Acton.
No Brasil, a concentração de poder em certas esferas, a cultura do “jeitinho” que relativiza a ética e a fragilidade das instituições em momentos de crise podem criar um ambiente propício para que indivíduos ajam como se invisíveis fossem às normas e aos princípios.
Observemos a proliferação de “rachadinhas”, os esquemas de desvio de salários de assessores; os lobbies obscuros que moldam leis em benefício de poucos; a utilização da máquina pública para fins eleitoreiros. Em cada um desses episódios, vislumbramos a sombra do anel de Giges, a sensação de que, por trás da cortina do poder, ações moralmente reprováveis podem ser praticadas sem o devido escrutínio e punição.
No entanto, a alegoria do anel de Giges também nos convida à reflexão sobre a natureza humana. Seria a busca pelo poder e pelo benefício próprio uma característica inerente a todos, apenas controlada pela vigilância social e pelas leis? Ou existe uma bússola moral interna, uma voz da consciência que guia alguns, mesmo na ausência de observadores?
Ainda há esperança no Brasil. A atuação vigilante de órgãos de controle, o trabalho incansável de jornalistas investigativos, a crescente conscientização da sociedade civil e a atuação de parcela do judiciário demonstram que o anel da invisibilidade não é onipotente.
A luz da transparência, por mais tênue que seja em alguns momentos, tem o poder de expor as sombras e responsabilizar aqueles que se valem da opacidade para seus próprios fins.
A lição de Giges, portanto, não é apenas um alerta sobre os perigos do poder sem controle, mas também um chamado à vigilância constante e ao fortalecimento das instituições que garantem a transparência e a responsabilização.
No Brasil de hoje, a luta contra a corrupção é, em essência, a luta para despojar os “Giges” de seus anéis imaginários, para que a moralidade não seja apenas uma convenção social imposta pelo medo, mas sim um princípio fundamental que guie a ação de todos, especialmente daqueles que detêm o poder de decidir o destino da nação.
A busca por uma política mais ética e transparente é, em última análise, a busca por um Brasil onde a invisibilidade não seja um salvo-conduto para a transgressão.
PERSIO ISAAC RD
"O conteúdo deste artigo reflete apenas a opinião do autor e não necessariamente as opiniões do Portal REVISTA DIÁRIA, que não se responsabiliza por qualquer dano ou erro que possa surgir do uso das informações apresentadas neste artigo. Ao acessar e ler este artigo, você concorda em que REVISTA DIÁRIA não se responsabiliza por qu isquer danos diretos, indiretos, acidentais ou consequentes que possam surgir do us o das informações contidas neste artigo. Você concorda que é responsável pelo uso q ue fizer destas informações e que o blog não tem qualquer responsabilidade por qual quer erro, omissão ou imprecisão."
- PUBLICIDADE -

Últimas notícias

Notícias Relacionadas