O PADRINHO
Amerigo Bonasera, um imigrante italiano, agente funerário bem sucedido, estava na Terceira Vara Criminal de Nova York, clamando e desejando por justiça.
Ele acreditava nos valores democráticos da América. Sua bela filha estava no hospital, com um fio metálico unindo o maxilar quebrado. Dois rapazes de cabelos engomados, cortado à escovinha e rostos bem-barbeados, agiram como animais selvagens e por sorte não molestaram sua filha sexualmente.
Para sua surpresa e indignação, o Juiz condenou esses dois pulhas a três anos de reclusão, com suspensão da sentença. Alegou que eram de boas famílias e tinham ficha limpa. Um ódio tremendo, uma rigorosa frustração e um gosto de fel na sua boca, sentindo o peso da injustiça.
Os pais desses playboys estavam sorrindo, rodeando seus filhinhos queridinhos. Os dentes de Amerigo estavam firmemente cerrados quando viu os sorrisos dos dois rapazes saindo do tribunal. Não disse uma palavra apertando o lenço nos seus lábios de ódio. Queria justiça mas ela decepcionou. Disse com a voz rouca: “Vocês vão chorar como eu chorei“. Um forte desabafo de um pai revoltado. Ele confiara na lei e na ordem. Pensou e disse para sua esposa: “Para conseguirmos justiça temos que ir, de joelhos, pedir para Don Corleone“.
O agente funerário fora convidado para o casamento de Connie Corleone, filha do Don. Sua mulher era amiga da mulher de Don, Constanza Corleone. Só por isso ele foi convidado. Pessoalmente, Amerigo Bonasera não gozava de nenhuma simpatia por parte do Don. Não abraçou e nem apertou a mão de Bonasera. Disse: “Todos nós sabemos o que aconteceu com sua filha. O que eu puder fazer por você, basta dizer. A minha esposa é madrinha de sua filha“.
Bonasera nunca chamara o Don de Padrinho. Amerigo Bonasera fechou os olhos e relatou toda a sua frustração com relação a justiça. “Porque você foi a polícia? Porque não veio a mim“?, Disse Don Corleone.
“Você nunca me convidou para tomar um café na sua casa. Tinha receio de devesse alguma coisa a mim? Eu não queria me meter em problemas”, disse timidamente Bonasera.
“Você acha que os Estados Unidos são um paraíso? Que é um lugar inofensivo? Você achava que nunca iria precisar de mim? Afinal a polícia, a justiça iria proteger você e sua família de quaisquer infortúnio? E agora você vem até mim exigindo que eu faça justiça. Não me oferece sua amizade e nem seu respeito. E vem no casamento da minha filha me pedir para matar dizendo: Pago o que pedir. Isso é uma maneira muito desrespeitosa“.
“Eu só queria que minha filha fosse americana e o País fosse bom comigo“.
“Ótimo! Então não tem o que reclamar. O juiz já decidiu. Leve flores e uma caixa de bombom para sua filha. Ela ficará contente. Afinal foram dois rapazes fogosos e um deles é filho de um político importante. Esqueça isso, Amerigo. Sei que és um homem honesto, mas a vida é cheia de desventuras. Reconheço que sempre desprezou minha amizade“.
Bonasera pediu novamente que Don fizesse a justiça. Olho por olho. “Que eles sofram o que minha filha está sofrendo“. Amerigo Bonasera beijou a mão de Don Corleone como sinal de respeito oferecendo sua lealdade e amizade. “Um dia vou te pedir um favor e espero que esse dia nunca chegue” disse Don a Bonasera.
Don Corleone chama Tom Hagen, seu “consigliere” e pede para ele chamar Pete Clemenza, um dos fiéis caporegime, para cuidar do caso de Bonasera.
“Não quero sangue, não somos assassinos. Faça valer a justiça do nosso jeito“.
O temido Luca Brasi iria cuidar dos dois engomados rapazes. A morte seria o melhor para eles do que o cruel castigo que iriam sofrer.