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O XADREZ SOMBRIO DE AGOSTO

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O Xadrez Sombrio de Agosto

Agosto de 1953 não chegou ao Irã com a doçura esperada do fim do verão. Em Teerã, a temperatura subia não só pelo sol a pino, mas pela tensão palpável que pairava no ar.

A Operação Ajax não era um segredo para os envolvidos, mas para a maioria dos iranianos, seria um tremor súbito, um golpe que viria do nada e mudaria o curso de sua nação para sempre.

Mohammed Mossadegh, o primeiro-ministro, era um gigante. Não pela estatura física, mas pela ousadia de sua visão: nacionalizar a Companhia Anglo-Iraniana de Petróleo (AIOC). Era um ato de soberania, um clamor por justiça econômica contra décadas de exploração.

A Grã-Bretanha, que via sua galinha dos ovos de ouro escorregar pelas mãos, não aceitaria tal afronta. E os Estados Unidos, emergindo como potência global e obcecados pela Guerra Fria, não viam com bons olhos um governo que parecia flertar com a instabilidade – ou, pior, com influências soviéticas.

Nos bastidores, o jogo de xadrez era intenso. Agentes da CIA e do MI6, com nomes e missões duplos, teciam a teia da conspiração. Dinheiro trocava de mãos em becos escuros, jornais eram subornados para publicar notícias difamatórias contra Mossadegh, e multidões eram organizadas, algumas pagas, outras genuinamente mobilizadas pelo descontentamento fomentado. A retórica anti-Mossadegh ecoava nas mesquitas, nos mercados, nos cafés. Diziam que ele era um tirano, que levaria o Irã à ruína, que não respeitava o Xá.

O Xá Mohammad Reza Pahlavi, um monarca jovem e indeciso, estava no centro da tormenta. Ele oscilava entre a lealdade a Mossadegh, seu primeiro-ministro legalmente eleito, e a pressão das potências ocidentais que viam nele a peça-chave para restaurar seus interesses. Aos seus ouvidos, sussurravam que Mossadegh era uma ameaça à própria monarquia, ao seu poder, à sua vida.

O primeiro movimento, um decreto do Xá demitindo Mossadegh, fracassou. O povo, ainda fiel ao carismático primeiro-ministro, saiu às ruas em apoio. Parecia que Ajax havia falhado. O Xá, em pânico, fugiu para o Iraque e depois para Roma, um rei exilado antes mesmo de seu reino cair.

Mas os conspiradores não desistiram. Os dias seguintes foram um turbilhão de desinformação, caos e manipulação. Agentes da CIA, com o auxílio de generais iranianos leais ao Xá, orquestraram protestos e contra-protestos. Bandidos contratados se misturavam a civis, criando tumulto, provocando a polícia, pintando um quadro de anarquia. A mensagem era clara: Mossadegh era incapaz de controlar o país.

A peça final do tabuleiro foi o Exército. No dia 19 de agosto, sob o comando de generais leais ao Xá e com o apoio logístico e financeiro ocidental, tanques e tropas marcharam sobre Teerã. Houve resistência, é claro. Civis e militares leais a Mossadegh lutaram bravamente, mas a força era esmagadora. O palácio de Mossadegh foi bombardeado, as ruas se transformaram em campo de batalha. O sonho de um Irã independente, livre das amarras estrangeiras, estava sendo esmagado sob as esteiras dos tanques.

Mossadegh foi preso, julgado e condenado à prisão domiciliar, onde viveria até sua morte, um símbolo trágico da resiliência e da derrota. O Xá retornou em triunfo, restaurado ao poder com o beneplácito de Washington e Londres. A monarquia seria fortalecida, e o petróleo iraniano voltaria a fluir, mas sob novas condições, mais favoráveis aos interesses ocidentais.

A Operação Ajax foi um sucesso para quem a orquestrou. Mas para o Irã, foi uma cicatriz profunda. A ferida da intervenção estrangeira, da desconfiança na democracia e da sensação de que seu destino era manipulado por potências distantes. Essa ferida, ainda hoje, ecoa nas complexas relações do Irã com o Ocidente, um lembrete sombrio de um agosto fatídico em que o xadrez da geopolítica se jogou com vidas e nações como peças.

Persio Isaac

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