O Estado do Rio, parece, começa a sentir na pele o abandono do agronegócio e a perceber a oportunidade para o desenvolvimento econômico e social da região que o setor representa pela relevância que assumiu na segurança alimentar do planeta.
O agro fluminense perdeu, no último quarto de século, R$ 1 bilhão em valor de produção, consequência da maior redução (62%) da área plantada ocorrida no país, segundo dados da Fundação Getúlio Vargas – FGV.
Metade da área plantada no Estado se localiza na região norte, porém com cultivo reduzido à metade.
Do outro lado da estrada, o agro brasileiro se expande e alimenta 10% da população mundial. Exportou, no primeiro semestre de 2022, o valor recorde de US$ 79 bilhões (48% das exportações brasileiras), liderado pela soja, que exportou US$ 30 bilhões, e pela carne bovina, que exportou US$ 6 bilhões.
O desconfortável cenário a que o agro fluminense foi condenado termina em significativo déficit de alimentos na região, concedendo ao setor enorme chance de crescer.
O Estado do Rio produz petróleo e gás, mas importa grande parte de sua alimentação.
Consome anualmente, por exemplo, 3 bilhões de litros de leite, mas produz somente 400 milhões de litros. Consome 4 bilhões de ovos por ano, mas produz somente 200 milhões de ovos.
Defasagens com essas magnitudes existem nos diversos campos do agro fluminense, como na psicultura, na pecuária, na fruticultura, na produção de grãos, expandindo para setores de industrialização e beneficiamento, consolidando seu enorme potencial de crescimento.
A oportunidade que o agro fluminense representa é extraordinária.
Protagonistas do agro no Estado, as regiões Norte e Noroeste detém a atenção oficial, mas a região Sul Fluminense, sendo a mais deteriorada, é a que oferece maior possibilidade de expansão.
Poderia, portanto, ser priorizada pelo Estado como destino de políticas públicas com fins de viabilizar a recuperação de sua participação na economia.
Em artigo anterior estimamos, por baixo, o mercado anual demandante da região Sul Fluminense na ordem de 50 mil toneladas de hortaliças; 26 mil toneladas de carne bovina; 16 mil toneladas de carne suína; 4 mil toneladas de pescado; 240 milhões de ovos e 45 mil toneladas de carne de frango, dimensões que revelam importante mercado consumidor, abastecido em sua quase totalidade por “importações”.
O restabelecimento do agro da região exigirá longa jornada, com fortes necessidades de infraestrutura, logística, capacitação de mão-de-obra, organização da distribuição e capitalização do produtor rural, porém o investimento realizado será mais do que compensado pela consequente geração de riqueza, emprego e renda.
Luiz Bittencourt – Eng. Metalúrgico/UFF; M. of Eng./McGill University/Montreal/Canadá; Pós-graduado em Comércio Exterior/Universidade Mackenzie/SP; Consultor em Relações Institucionais.