ARTIGO
ORGULHO DE SER JORNALISTA
Tenho horror a saudosismo, embora me agrade ver fotos de repórteres jovens, amigos, pele lisa, geralmente nas portarias dos poderosos. Cena comum, em Brasília, terra em que debutei no jornalismo, no fim dos anos 70.
Como tínhamos orgulho de pertencer a corporações.
Lá vem o Beto, ele é da Folha. Cida saiu do Globo e foi para o Estadão. Gilnei é agora da Tv Globo. Soninha não sai da Rádio JB, apesar de ter recebido um convite. Bartô não é mais repórter, fica na redação. Virou chefe. Só pra citar alguns personagens (dos melhores), essa era nossa conversinha nos plantões, nos corredores de ministérios, Congresso, Palácio do Planalto.
Cada troca de posto provocava um solavanco nas mesas do Beirute, no Clube de Imprensa e muitos, muitos “óóósss” entre os coleguinhas.
A informação era primazia de quatro grandes jornais: O Globo, Folha de São Paulo, O Estado de São Paulo e Jornal do Brasil. Os dois da capital, Correio Braziliense e Jornal de Brasília, embora tenham formado grandes profissionais, nunca abalaram a mística dos jornalões das metrópoles.
As sucursais de Brasília viviam apinhadas de gente orgulhosa dos seus feitos, das suas façanhas.
Tínhamos a ingênua sensação de estar fazendo justiça com nossas pretinhas. Jamais o interesse corporativo, as negociatas dos barões da comunicação abalavam nossa convicção: história contada, com isenção.
De vez em quando, em tom de conspiração, vinha à baila o acordo Time-Life com as organizações Globo, entredentes. Alguém soube que os donos do JB procuraram o presidente de então para obter um empréstimo e sair da bancarrota (que veio).
Em tom conscupicente, nas rodinhas, dizíamos: como o Estadão construiu a sede nova da marginal? Tudo dito por cochichos porque a redação que atacávamos, timidamente, podia ser o próximo destino profissional. Mas nada disso quebrava a confiança juvenil por aqueles santuários da informação.
A maturidade vem.
Você recebe porradas (naturais) da vida e abre os olhos. Gosto do vôo de zarabatanas, hoje tão comuns. Não há notícia sem contestação. Basta um click e as patrulhas surgem, aguerridas.
Geralmente a crítica vem acompanhada da questão filosófica maior: a quem serve o fato?
A compreensão de que a divulgação se presta a interesses escusos, escondidos, comezinhos, hoje está mais clara para mim.
Podemos questionar a qualidade da emissão, qualquer indivíduo, sem a específica formação, transformou-se em reporter. Tudo bem. Sinal dos tempos.
A internet alterou a lógica. Ainda que tenha aberto o esgoto, antes cuidadosamente fechado pelos donos das chaves.
Guardo no coração as imagens do passado. Saboreio a ingenuidade que exerci, com parceiros tão queridos e sonhadores. Mas creio que a vida, hoje, é mais real nos mass-media. Por isso tão cruenta, tão dura.
Isto posto, palmas para o jornalismo, reflexo mais imediato do tempo em que se vive.
Jornalista Laerte Rimoli
Fonte: copiado da Rede Social Facebook de Laerte Rimoli
www.revistadiaria.com.br