ARTIGO
Pecuaristas e produtores de leite: Reféns sem estratégia
Dois importantes setores da economia nacional, pecuaristas e produtores de leite, ainda são reféns de elos da sua própria cadeia produtiva e vivem na ilusão de que um dia serão devidamente recompensados pelo seu árduo trabalho. Ambos se levantam cedo e se dedicam intensamente, mas sem a garantia de um futuro promissor. Frequentemente, reclamam dos baixos preços, e, quando há uma breve melhora, acreditam, como crianças esperando pelo Papai Noel, que as coisas finalmente mudaram.
No entanto, o que falta a esses setores é olhar além da porteira e entender a realidade do mercado. Um exemplo de transformação vem dos frigoríficos, que, até os anos 1990, enfrentavam alta mortalidade e falta de crédito. Esses empresários se concentraram, começaram a exportar, reduziram a dependência do mercado interno e das grandes redes de supermercados. Adotaram um planejamento global, profissionalizaram suas estruturas e criaram um forte sistema de lobby, um movimento comum em países desenvolvidos.
Enquanto muitos pecuaristas preferem gastar em leilões caros, os donos dos frigoríficos buscam parcerias no exterior e até consideram adquirir bancos. Enquanto uns vão à porta dos governos reclamar, os outros influenciam as decisões governamentais.
Se pecuaristas e produtores de leite não se unirem de fato, adotando uma estratégia global e profissionalizada, continuarão sendo “ricos pobres”, vivendo de ilusões e sem sustentabilidade. A atual melhora no preço da arroba pode trazer novamente a falsa sensação de prosperidade, levando alguns a trocar de camionete ou a fazer viagens ao exterior, mas sem resolver os desafios estruturais. Essa é a triste realidade de dois dos setores mais importantes do Brasil.
A maioria dos setores de commodities no Brasil enfrenta o mesmo drama, uma questão cultural profundamente enraizada, que mais parece uma doença a ser superada.
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