ENTREVISTA
A Revista Diária entrevista, em momento de turbulência, um dos principais líderes do Agronegócio nacional, o presidente do Conselho Nacional do Café, Silas Brasileiro, que está à frente do setor há vários anos em razão de sua serenidade, coerência, seu trabalho e por sua visão estratégica.
REVISTA DIÁRIA
Presidente Silas, qual a análise que o senhor faz do cenário nacional, em momento no qual os três principais poderes da República – Congresso, Executivo e Judiciário – não conseguem se entender e ocorre o distanciamento de vários estados em relação ao poder central?
SILAS BRASILEIRO
Com a vivência pública e política que possuo ao longo dos anos de experiência como prefeito, secretário e deputado federal, vejo com muita preocupação o cenário atual.
A divergência entre os poderes é saudável quando pensamos que é algo necessário para se chegar a uma congruência, a um equilíbrio sobre determinadas matérias. Contudo, o que temos observado é a triste realidade de tentativas de interferências e sobreposições sucessivas, uma competição pela demonstração de quem é mais forte, cenário crítico e triste que só contribui para fomentar a polarização, o racha e o extremismo na população. E, convenhamos, todo extremismo não leva a lugar algum que seja positivo ou aproveitável.
REVISTA DIÁRIA
O Agronegócio tem grande participação na economia, presente em todos os municípios brasileiros e, em situações de incerteza política, sempre se posicionou. Qual é a posição do Agro hoje, perante a crise política?
SILAS BRASILEIRO
A posição do agro é o agro!
Majoritariamente, o setor apoia os governos, pois tem relação direta e ativa para a disponibilização do crédito rural, por exemplo. Claro que, como em todos os segmentos, há posições extremistas dentro do agronegócio, das quais divirjo veementemente. Radicalismo não leva a nada a não ser aos isolamentos e à perda de força unilateralmente.
Sou defensor e praticante assíduo do cooperativismo e creio que somente unindo nossas forças teremos condições de observarmos cenários futuros positivos.
É necessário entender e fazer entender que o agro não parou e nunca parará, seguindo como fiel da balança para as contas do governo por meio de sua geração de divisas e da enorme geração de empregos, fomentando as demais atividades comerciais nas cidades.
A terra é a riqueza do Brasil, o alimento é essencial e o café, mais do que prazeroso, é um agente importante para a saúde, ajudando a prevenir diversas enfermidades. Portanto, a posição do agro é o agro, é a coerência, o equilíbrio e a união para o crescimento conjunto.
REVISTA DIÁRIA
É do conhecimento que, na maioria dos municípios que produzem café, a condição social se encontra acima da nacional. Como estão essas localidades, nesta crise do coronavírus?
SILAS BRASILEIRO
A respeito do combate à proliferação do novo coronavírus, foram elaborados e distribuídos materiais orientativos, principalmente por parte do Ministério da Agricultura e do Conselho Nacional do Café em parceria com a Emater-MG, sobre como produtores e trabalhadores devem se comportar diante da pandemia da Covid-19 para se proteger.
Recomendamos que nossa base siga as orientações propostas, bem como aquelas adotadas pelos Estados e municípios produtores de café, exatamente para que a atividade avance.
Portanto, o café não parou e não parará.
E, pelo fato de não parar, o café surgiu com uma nova função social frente aos índices de desemprego ocasionados pelo isolamento.
Os trabalhos de colheita, que se intensificam agora em maio, serão realizados majoritariamente pelos desempregados das cidades onde se localizam os cafezais, surgindo como alternativa de renda a essa população que se vê em estado extremamente preocupante financeiro.
Ou seja, o café mantém sua relevância econômica e social, contribuindo para alimentar milhares de família nessa fase da colheita.
REVISTA DIÁRIA
O coronavírus não gerou só problema de saúde, mas também econômico. Qual a estratégia que o café tem para enfrentar essa situação nos próximos 12 meses?
SILAS BRASILEIRO
Com base nos materiais orientativos, como o produzido pela parceria entre CNC e Emater-MG, os quais foram distribuídos ao setor por parte dos governos federal, estaduais e municipais, o café não parou!
Seguindo as recomendações, os trabalhos de “panha” vêm se intensificando, a produção deverá ficar dentro do intervalo estimado pela Conab, próxima a 60 milhões de sacas, e as exportações mantêm um ritmo perto da normalidade, ainda não sendo registrados problemas logísticos.
A estratégia principal que conduzimos através do Conselho Nacional do Café (CNC) envolveu tratativas diretas com o governo federal para a liberação antecipada dos recursos do Fundo de Defesa da Economia Cafeeira, o Funcafé, na safra 2020, que disponibilizará o recorde de R$ 5,7 bilhões.
Os recursos são liberados normalmente em julho/agosto, mas devemos conseguir que fiquem à disposição ao final de maio/começo de junho, possibilitando que o produtor cubra a sua folha de pagamento semanal da colheita, haja vista que os preços praticados nas últimas safras os deixaram descapitalizados, bem como ordene o fluxo da produção, podendo negociar seu produto nos momentos mais oportunos do mercado.
REVISTA DIÁRIA
Em outubro vamos ter eleição nos municípios brasileiros. Parte significativa da receita e dos empregos nos locais citados na pergunta 3 vem do café. Como será a participação das lideranças do setor, considerando que não é possível separar política de economia, e que é nos municípios que nascem as lideranças nacionais?
SILAS BRASILEIRO
Realizaremos o trabalho de esclarecimento sobre o valor, sobre a importância do voto em nossos candidatos locais, que tenham uma conduta coerente e correta, não permitindo que extremismos se sobreponham às reais necessidades das cidades, nas zonas urbana e rural.
O foco municipal tem que estar voltado a setores sempre fundamentais, como economia, infraestrutura, educação, segurança e, diante do cenário atual, principalmente saúde. Esses são os aspectos fundamentais para que se faça uma boa escolha.
REVISTA DIÁRIA
Nenhum país é uma ilha. Entretanto, parece que a elite brasileira está considerando como se fosse, esquecendo que a ameaça geopolítica mundial em processo acelerado é maior do que a nacional. Não estamos vendo ninguém tratando desse assunto. Qual a sua opinião?
SILAS BRASILEIRO
A Pandemia despertou os governos para uma nova realidade, passando a conhecer melhor a situação de suas populações.
Isso tem despertado os governantes a analisar a globalização da economia e o comprometimento de intensificar relações mais estreitas entre os países do globo.
O Brasil, como grande provedor mundial, em especial de alimentos, precisa ter sua própria linha de condução com seus parceiros ou grupos de parceiros internacionais.
Orientar que haja manifestação em prol de um ou de outro, com ou sem embasamento, seria hipocrisia, pois é o mesmo que critico quando cito tentativas de interferências e sobreposições sucessivas na disputa entre os poderes Legislativo, Executivo e Judiciário.
BRASIL, EMPRESAS, POLÍTICA, ECONOMIA, COMÉRCIO EXTERIOR
Luiz Bittencourt Aluizio Torrecillas Hélio Mendes