ENTREVISTA COM O SENADOR CARLOS VIANA (PODEMOS-MG)
O Senador Carlos Viana é reconhecido como um dos mais preparados do Congresso Nacional. Fluente em quatro idiomas, possui experiência como executivo de uma empresa multinacional e é pós-graduado em gestão pública. Conta com apoio de diversos segmentos, especialmente o dos evangélicos, devido à sua religiosidade e à defesa dos valores tradicionais. Destaca-se por seu perfil de estadista.
REVISTA DIÁRIA: Senador, vivemos tempos difíceis no Brasil. A população parece cada vez mais dividida, manipulada por posições extremas. Como político de centro, mas não do centrão, como o senhor analisa essa situação?
Resposta: O extremismo não tem feito bem à política e ao país. Infelizmente, nós temos nos últimos anos, possivelmente nas últimas duas décadas, o crescimento desses posicionamentos radicais que pioraram e muito o convívio político em nosso país. E, a meu ver, o que nós precisamos é voltar ao diálogo. Nós precisamos revalorizar o respeito entre as diferenças e tratar a política como um campo onde se busca consenso naquilo que é possível.
Infelizmente eu não vejo ainda anúncio nas próximas eleições, principalmente na próxima, para a Presidência da República, que escaparemos dessa questão apenas de direita extrema e esquerda extrema.
Nós ainda teremos uma disputa ideológica e partidária muito profunda, mas depois, eu entendo que os brasileiros aprendem com a realidade e vão se tornando sábios à medida que as experiências vão acontecendo e, naturalmente, buscando os resultados.
Eu confio no futuro, mas ainda prevejo que teremos em boa parte, disputas extremadas que, volto a dizer, não fazem bem ao nosso país.
REVISTA DIÁRIA: O mundo tem registrado o crescimento de políticos populistas e a redução do número de estadistas. Com isso, a qualidade da política tem se deteriorado. Na sua visão, como seria possível reverter esse processo?
Resposta: A questão do populismo sempre foi um problema. Isso não é de agora. Veja, por exemplo, as ditaduras, o nazismo, o fascismo na Itália, homens que usaram do sentimento do medo das pessoas, da indignação da maioria de uma população e transformaram isso em um poder ditatorial que infelizmente levou o mundo a guerras e a destruição dos povos. E não é privilégio de países com menos renda ou países mais pobres.
A Alemanha, por exemplo, antes da 2º Guerra Mundial, era um país de doutores, mestres, engenheiros e arquitetos que com o advento do nazismo, foram à guerra em uma vingança do passado. O populismo nazista levou um país educado à destruição completa.
Agora, nós aqui no Brasil, temos assistido esse tipo de comportamento na política por meio de redes sociais.
As redes, que são ferramentas novas, são uma novidade no mundo da política e na vida das pessoas. Chegaram muito rapidamente a cada um por meio dos telefones celulares, mexeu com a vida de cada pessoa, de cada brasileiro, de cada morador no mundo, que não é um problema só nosso, e essas redes sociais trouxeram com elas: desafios, mistérios, enigmas que nós estamos solucionando aos poucos sobre os efeitos no dia a dia das pessoas, os efeitos da política.
Alguns nós já podemos perceber. As redes sociais são locais férteis para os populistas que enganam as pessoas com falsas promessas e com falsa rapidez na solução de problemas que a gente leva décadas para resolver. Problemas graves como a sociedade brasileira vivem não se resolvem em rede social ou em conversa de boteco, se resolvem com diálogo político, com planejamento e, infelizmente, nós temos percebido que o populismo apenas muda de cara e de plataforma ao longo da história da humanidade.
REVISTA DIÁRIA: O senhor representa Minas Gerais no Congresso, um estado com 853 municípios, muitos dos quais enfrentam sérias dificuldades financeiras. A tese de “Mais Brasil, menos Brasília” ainda não se concretizou. Como reverter esse modelo centralizador?
Resposta: “A tese Mais Brasil menos Brasília” é uma tese liberal sustentada pelo ex-presidente Bolsonaro, que eu concordo plenamente. Eu tenho muitas críticas ao Bolsonaro na ação dele como presidente, mas nas questões de alinhamento econômico eu caminho “par e passo” com a política anterior.
Um problema que eu percebo também é que a maioria dos municípios brasileiros não trabalha com planejamento. Os municípios, eles recebem os recursos, gastam os recursos em questões imediatas, mas não trabalham com orçamentos, não trabalham com projetos mais aprofundados, detalhados, porque o dinheiro continua existindo de uma maneira ou de outra. E em Brasília ele é liberado, desde que os ministérios estejam devidamente equipados com projetos bem feitos.
A meu ver, antes de nós falarmos em mais recursos para os municípios, nós temos que falar de mais profissionalização das administrações municipais.
REVISTA DIÁRIA: As perspectivas econômicas para os próximos dois anos não são animadoras. Será necessário agir com inteligência e coragem. Como Senador, quais ações o senhor pretende adotar para enfrentar esses desafios?
Resposta: As perspectivas econômicas, dentro da visão de quem já viu o Brasil em várias crises, realmente preocupa. Esses dois anos de governo Lula e do PT, a questão dos gastos não teve a importância necessária. A meu ver, não recebeu a atenção devida dos ministros da área econômica. E agora nós estamos em um momento de muita insegurança, o dólar subindo muito, os investimentos parando, a saída de dinheiro do país com muita rapidez.
Tudo isso é fruto de um cenário de instabilidade. Mas isso muda muito rapidamente também. Ano que vem é um ano em que nós teremos muito dinheiro circulando , por ser pré eleitoral. É um ano em que se gasta muito e se busca resolver as questões do país ou pelo menos dar uma visibilidade maior ao governo.
A minha posição é muito clara: voto a favor do corte de gastos, voto a favor do equilíbrio das finanças e já votei contra a chamada “PEC do Teto de Gastos”, que aumentou em quase R$ 70 bilhões a possibilidade do governo usar o orçamento.
Eu sou um político que gosto da previsibilidade, do planejamento, da transparência, para que as pessoas possam saber o que está acontecendo, os geradores de emprego e renda também poderem ter a noção de que futuro os espera.
Esse momento de turbulência não faz bem ao Brasil e eu espero que passe breve.