ECONOMIA
ARTIGO
Com Luiz Bittencourt e Hélio Mendes
COURO: HÁ SOLUÇÃO?
A inapetência da manufatura brasileira pelo couro limita sua demanda a quase 12% do total da produção nacional de peles. Todo o restante da produção brasileira, acima de 88%, é exportado.
Como se vê, há forte opção da cadeia produtiva nacional pelos materiais sucedâneos, plásticos principalmente.
Na tentativa de seduzir a indústria doméstica e reduzir o interesse do cliente internacional pela matéria-prima nacional, o setor curtidor chegou ao paradoxo de apoiar, por 17 longos anos, a incidência de um imposto de exportação sobre o couro wetblue. A medida revelou-se infrutífera.
Internacionalizado por sobrevivência, resta evidente que qualquer ação do setor curtidor em território nacional, tendo o mercado doméstico como alvo, resultará sempre, e no máximo, em traço na sua performance.
Com imagem do couro visivelmente deteriorada por ação concorrencial, ventos nada favoráveis no mercado global estão refletindo duros impactos no equilíbrio financeiro da indústria curtidora nacional.
O recorde obtido em 2014, quando a exportação de couro brasileiro alcançou US$ 2,9 bilhões em divisas, se deteriorou e chegamos a 2018 com a exportação de US$ 1,4 bilhão, expressiva redução de 51%. Essa vertiginosa queda se mantém em 2019, gerando perspectiva nada estimulante de US$ 1,2 bilhão em couros exportados.
A adversidade aflige não só pela queda na geração de divisas, mas, principalmente, por não manter compatível relação entre quantidade comercializada e faturamento. A assimetria entre eles revela progressiva e consistente desvalorização da matéria-prima nacional.
Até julho de 2019, comparado com igual período de 2017, o Brasil exportou 10% menos em área de couro e recebeu 38% menos em US$. Essa tendência está resistente a ações de estímulo à sua inflexão.
O problema evolui com incomum gravidade e apresenta complexo diagnóstico por envolver diversas e independentes causas.
Estão em jogo a baixa qualidade do couro nacional, a predatória concentração produtiva no setor, a limitadora característica de oferta inelástica, os orquestrados ataques que maculam a imagem da matéria-prima couro e, finalmente, a inépcia que incapacita a organização de uma estratégia hábil o suficiente para equacionar as agruras domésticas e regenerar o glamour do couro no mercado internacional.
Sendo os distúrbios nacionais antigos, perenes e insolúveis, a análise prática sugere a limitação das ações domésticas que, invariavelmente, se revelam improdutivas, e direciona o foco para o ambiente global, local da contenda, onde parcerias com International Council of Tanners – ICT, European Leather Association – COTANCE e, eventualmente, entidades setoriais nacionais se apresentam imprescindíveis para a recuperação da imagem e do valor do couro.
Enquanto cresce o amor pela carne, os bem articulados ataques da concorrência, baseados em manipuladas informações, aumentam o ódio do consumidor pelo couro, o que precisa ser muito bem avaliado, trabalhado e revertido, enquanto há tempo.
Luiz Bittencourt, Engenheiro Metalúrgico pela UFF; Master of Engineering pela McGill University, Montreal, Canadá e pós graduado em Comércio Exterior pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. Diretor da LASB Consultoria. Contato: e-mail: [email protected]
Hélio Mendes, Professor e Consultor de Planejamento Estratégico e Gestão nas áreas privada e pública. Contato: www.institutolatino.com.br
Luiz Bittencourt e Hélio Mendes são Consultores Especialistas em Relações Institucionais e Governamentais.
www.revistadiaria.com.br