POLÍTICA & NEGÓCIOS
ARTIGO
Com Hélio Mendes & Luiz Bittencourt
Hélio Mendes Luiz Bittencourt
DO BOI AO ESTOFAMENTO AUTOMOTIVO, SETORES PRODUTIVOS SOB AMEÇA
Dados oficiais disponíveis para os últimos 20 anos, relativos ao comércio exterior brasileiro, revelam que vários setores contribuíram para o crescimento das exportações nacionais.
A carne liderou com o aumento de 771%; em seguida o couro, com 140%; e a resultante levou o Brasil a um incremento de 400% nas exportações. Dessa cadeia produtiva, a indústria de calçados retrocedeu e reduziu suas exportações em 15%.
Do boi ao estofamento automotivo, a cadeia produtiva teve, mesmo sob intensa ameaça concorrencial, capacidade para competir e fôlego para contribuir com o comércio exterior brasileiro.
ANALISANDO ALGUNS ELOS DA CADEIA:
O pecuarista melhorou em tudo, genética, manejo, qualidade, mas os benefícios não chegaram para ele na mesma proporção.
O preço da arroba do boi não acompanhou o padrão evolutivo e o pequeno volume produtivo penaliza os pequenos produtores.
O setor frigorífico ganhou inesperada concentração; abriu mercados; quebrou e construiu empresas; diminuiu os riscos dos pecuaristas, mas, em razão da concentração, não repassou os benefícios aos produtores e aos curtumes, como poderia ter feito.
O setor está bem? Deveria estar melhor, se o apoio oficial tivesse tido como destino o setor, e não empresas convenientemente selecionadas.
A indústria de calçados, por sua vez, enfrenta, há muito, imbatível concorrência asiática.
O setor busca competitividade com razoável ênfase na obtenção de apoio oficial (isenção fiscal, promoção comercial via Apex, medidas antidumping, subsídios, etc.) e, com todo esse esteio, ainda assim encolheu e reduziu suas exportações.
Qual é o problema? Certamente o calçadista sabe a resposta, mas a criação de estratégias competitivas globais contribuiria para sua recuperação no mercado.
O couro, em que pese o esforço de suas lideranças, passa por momento extremamente delicado e, sob desconfortável concentração, vive entre dois intensos tiroteios – o dos ambientalistas e o dos produtos alternativos, que de forma concertada e com falsas acusações, tentam denegrir a imagem dessa matéria-prima natural.
O sucesso nesses ataques leva o plástico, o verdadeiro e único vilão, a deslocar o couro do mercado, enquanto segue impunemente destruindo o planeta.
A ausência de resposta proporcional dos curtumes, identificando e divulgando de forma clara quem realmente polui e os motivos dos abates, permite que a nobreza do couro esteja sendo literalmente jogada no lixo.
Não há competitividade que resista a tamanho e orquestrado assédio.
Ameaças acontecem em qualquer cadeia produtiva, mas são agravadas por inoperante combatividade setorial e por insuficientes reações.
A estratégia de recuperação constantemente utilizada carrega intenções que não dispensam o apoio governamental.
O desapego ao recurso público, como reformulação cultural, o foco na concorrência setorial e uma reengenharia no modelo de negócios seriam um bom recomeço.
Hélio Mendes e Luiz Bittencourt são Consultores empresariais e governamentais –www.institutolatino.com.br