AS LIÇÕES DA PARALIZAÇÃO
A paralisação dos caminhoneiros, que se tornou dos brasileiros, vai ficar para a história. Podemos dizer que todos os brasileiros ajudaram a escrevê-la, exceto os políticos e algumas mídias que vivem da verba dos governos. Nem as lideranças sérias tiveram a sensibilidade de se manifestar a favor de quem estava com a razão, fato inexplicável.
O povo venceu esta etapa, mas pode demorar a chegar ao pódio, porque dentro de quatro meses não haverá muitas opções: queremos o novo, mas não haverá oferta qualitativa, e os poucos que surgirem enfrentarão uma eleição com cartas marcadas, concorrentes que utilizarão as famigeradas verbas parlamentares para manter os seus currais eleitorais, estruturas governamentais nos três planos de governo, além do fundo partidário, criado com o dinheiro do contribuinte.
Se algumas pessoas ainda acreditavam que o governo até tinha alguma credibilidade ou capacidade de se manter, esta paralisação deixou claro que não tem. O governo cedeu a todas as reivindicações, porque sentiu, com base em vários exemplos da história, que poderia ser deposto ou obrigado a renunciar, mas ainda continua com um grande problema: como terminar o mandato, sem credibilidade? Parte significativa da sociedade pede intervenção militar, em razão da incapacidade de liderança da classe política. E quem tentar a reeleição ou se candidatar pela primeira vez terá pela frente um eleitor indignado e desiludido com a política. Há uma possibilidade grande de muitos não comparecerem às urnas e de outros anularem o voto, como também fazerem um voto de protesto. Opções que não ajudam a consolidar a democracia, mas que têm grande possibilidade de acontecer.
O povo venceu esta etapa, a questão agora é: temos pela frente uma economia debilitada e problemas sociais graves; os sistemas básicos a desejar, como saúde, segurança; falta de emprego; e uma dinâmica mundial que exige cada dia mais competitividade e inovação.
É necessário que as lideranças civis deixem de delegar toda a responsabilidade de gestão do País apenas para a classe política e que os governos revejam o seu comportamento, tomando atitudes como abaixar seus salários – ou mesmo abrir mão deles, como é o caso dos vereadores dos pequenos municípios – e começar a adotar medidas estruturais, porque as paliativas não resolvem mais, só agravam os problemas. E o cidadão de forma geral não deve esperar um salvador da pátria. Precisa, sim, perceber que os verdadeiros representantes são os que defendem o coletivo, e não a si próprios, e têm que prestar conta de seus atos.
A grande lição dada pelos nossos caminhoneiros é: quem quer, caminha. No caso deles, foi parar. Há necessidade de passar o País a limpo, não podemos mais adiar as reformas estruturais, a começar pelos municípios, pois muitos não têm condições de continuar, terão de voltar à condição de distritos.