PINGA FOGO COM LUIZ BITTENCOURT
O RESCALDO DA CHANTAGEM
Estamos diante de uma desmobilização lenta e melancólica de uma paralisação de caminhoneiros que obteve “sucesso” em suas reivindicações, mas serviu de massa de manobra para escusos interesses políticos, ao instalar o caos no país, aproveitando-se da baixíssima aprovação do Presidente da República. Resta evidente que o custo do movimento foi astronômico para a sociedade e deixará sequelas na economia.
Reduziu-se a expectativa de crescimento do PIB, reverteu-se a previsão de redução na taxa de juros e de queda na inflação, o dólar disparou, a bolsa despencou e a Petrobras se desvalorizou.
A população se viu privada de movimentação e assustada com o desabastecimento. Como inevitável consequência teremos elevação no endividamento do país, desaceleração na recuperação da economia e, consequentemente, do nível de emprego.
Para terminar com a chantagem, o governo cometeu diversas impropriedades no atendimento aos pleitos, como subsidiar, obviamente com o nosso dinheiro, o poluente óleo diesel (tendo produção de etanol no Brasil), como tabelar o preço mínimo desse combustível (em flagrante confronto com as regras de mercado) e ainda garantir 30% das contratações da Conab aos caminhoneiros autônomos (oficializando condenável reserva de mercado).
A paralisação foi um desastre para o país, as medidas implantadas para sua desmobilização foram inconvenientes e os organizadores dessa criminosa chantagem não podem ficar impunes.
RETÓRICA X REALIDADE
Ontem, a Ministra Carmem Lúcia abriu a sessão do STF com um discurso em defesa da democracia e da atuação do judiciário. Democracia, como sabemos, é pano de fundo para todo e qualquer discurso, independente de ideologia, cor, credo ou opção sexual. Contudo, e como tudo, democracia também é relativa. A democracia marca “Brasil” desenvolveu especial expertise, com galopante ganho de escala, no módulo corrupção, alimentado que foi pela ilimitada impunidade. É aí que entra o judiciário. Desde os crimes comuns aos de colarinho branco, há uma nociva leniência com os meliantes, sempre respaldada pela surrada “interpretação da lei”. O discurso de ontem diverge, em muito, da realidade.