POLÍTICA & NEGÓCIOS
ARTIGO
Com Luiz Bittencourt
UM BOM SEGUNDO SEMESTRE
Após mais de uma década de equivocadas políticas públicas focadas nas relações Sul/Sul, renasce das cinzas o Mercosul e, em construído acesso de responsabilidade, articula e assina o histórico acordo comercial com a União Europeia, encerrando com chave de ouro o primeiro semestre de 2019.
Essa decisão claramente sinaliza que os países do bloco econômico gradualmente abdicam do protecionismo e deliberam, definitivamente, pela implantação do livre mercado, repaginando o Mercosul e direcionando-o para um real global player.
A abertura do mercado europeu proporcionará diversificadas oportunidades aos setores industriais brasileiros.
No caso das commodities, o mercado chinês passará a enfrentar construtiva concorrência, ao mesmo tempo em que haverá desobstrução, para ingresso no mercado nacional, de manufaturados europeus.
A eliminação de tarifas ampliará o acesso do consumidor brasileiro, por exemplo, a vinhos e calçados franceses e italianos.
Certamente, a inicial reação do empreendedor brasileiro será de resistência à “invasão” estrangeira, porém a indústria nacional reconhecerá a importância desse acordo e se adequará para competir no prazo de 18 a 24 meses, necessário para a progressiva entrada em vigor do acordo, período no qual se reduzirão os conhecidos atalhos protecionistas.
Por outro lado, se a nova era comercial fortalecer a relação produto primário/manufaturado, há robustas chances de o Brasil vir a sofrer proporcional e setorizada desindustrialização.
O jogo precisará ser direcionado a um ponto que equilibre o estímulo ao consumo e a alavancagem aos investimentos, amparados pela prioridade na geração de empregos.
A indústria está destinada a contribuir de forma decisiva com investimentos em competitividade.
Mesmo necessitando de longo prazo para entrar em vigor, mas de estimulante sinalização, o acordo se une a recente aprovação da reforma previdenciária e, juntos, impulsionam a expectativa do mercado.
Com a reforma, a bolsa sobe, o dólar cai, a agenda governamental se libera e, em ação de muito maior agilidade, prevê anúncio de medidas de estímulo a economia, como a reforma tributária, aceleração das privatizações, choque da energia barata, liberação do PIS/Pasep e de parte do FGTS e, com o controle da inflação, possível queda na taxa de juros.
Várias delas com consequências já no segundo semestre, culminando com desburocratização, ganhos de previsibilidade e com a decorrente retomada do crescimento, até onde se sabe, abrindo mão de estímulos fiscais.
Há muito o mercado não se mostra tão confiante, apesar de uma pequena e descontrolada oposição no parlamento, direcionada à conquista do poder político, mas de pernicioso impacto na economia.
De qualquer forma, o ambiente de negócios, tanto para commodities quanto para manufaturados, pode recuperar o fôlego, com repercussão na geração de empregos.
Luiz Bittencourt, Engenheiro Metalúrgico pela UFF; Master of Engineering pela McGill University, Montreal, Canadá e pós graduado em Comércio Exterior pela Universidade Presbiteriana Mackenzie. É Consultor especializado em Relações Institucionais e Diretor da LASB Consultoria. e-mail: [email protected]
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