MUNDO
ARTIGO COM LUIZ BITTENCOURT E HÉLIO MENDES
O inusitado episódio do Covid-19 assustou a população mundial, revitalizou alguns valores e redefinirá relações empresariais.
O mundo vivia em enganosa paz eternizada pelas manifestações politicamente corretas, pela globalização e pela opção multilateralista.
Havia uma cascata de engodos que se reproduziam, eram divulgados e aceitos com falsa naturalidade.
Vivíamos num confortável faz de conta, ambientados pela Pax Americana.
Nesse gigantesco teatro, a China percebeu que, mesmo sob regime comunista, para alcançar o patamar de superpotência precisaria adotar práticas capitalistas e o fez com competência. Construiu parque industrial invejável, agregou valor a sua produção, capacitou seus filhos em universidades internacionais, investiu em energia e tecnologia, hospedou empresas integrantes de cadeias globais de valor e passou a demandar grande parte das commodities mundiais.
Avançou e passou a competir com os EUA pela liderança do comércio global e, a partir de então, protagoniza participação política em todos os organismos multilaterais. Nesse período, cresce exponencialmente a dependência mundial dos produtos chineses.
Há pouco tempo, em rearranjo cíclico e em contraponto ao status quo, alguns países redirecionaram sua orientação política/ideológica e provocaram reordenamento, com ênfase no nacionalismo e no bilateralismo, refazendo conceitos e tirando o establishment da zona de conforto.
É nesse efervescente ambiente político que surge, no final de 2019, em Wuhan, China, o Novo Coronavírus cuja notificação foi inexplicavelmente postergada, negligência imprescindível para sua propagação internacional.
Sobreveio a contaminação e, após quase meio ano de epidemia, observa-se radical e conveniente preferência do vírus pelas populações europeias e americanas. Há quem enxergue guerra biológica nessa história.
O resultado desse desastre ainda é imprevisível, mas expôs a dependência global da China.
Aposta-se em significativa recessão na grande maioria dos países infectados e redução no crescimento da China, que, apesar da epidemia, elevará proporcionalmente seu protagonismo como fornecedor mundial.
Nesse devastado cenário, não resta dúvida de que a economia global se fragilizará e provocará reordenamentos geopolítico e mercadológico.
A China, como liderança econômica e comercial, participará ativamente dessa restruturação e o novo padrão de relação com empresas chinesas caracterizará o papel do país: ameaça ou oportunidade.
No caso brasileiro, estratégias empresariais deveriam trabalhar, e até incentivar, a possibilidade de reação nacionalista, com o consumidor optando por produtos nacionais.
Não é prudente a manutenção da danosa dependência empresarial da China, que precisa ser imediatamente avaliada e tratada com firmeza e responsabilidade.
No agronegócio, a posição se inverte.
O protagonismo do agronegócio brasileiro no mercado global é uma realidade e deverá crescer, consequência de investimentos em gestão, qualidade, confiabilidade e produtividade.
Hoje estamos todos intranquilos, em contexto visivelmente condenado.
A posição relativa brasileira na saída do caos será consequência exclusiva de decisões empresariais estratégicas.
Luiz Bittencourt – Eng. Metalúrgico/UFF; M. of Eng./McGill University/Montreal/Canadá; Pós-graduado em Comércio Exterior/Universidade Mackenzie/SP; Consultor em Relações Institucionais; Diretor da LASB Consultoria – [email protected]
Hélio Mendes – Professor e Consultor de Planejamento Estratégico, Gestão Quântica e Gestão nas áreas privada e pública – www.institutolatino.com.br