A dada altura, questionei-me: “e se a ansiedade fosse algo que fazemos e não algo que temos?”. Foi a partir desse momento que tudo mudou.
Quando se fala de ansiedade, pensamos em “algo” dentro de nós que nos faz sentir nervosos, com irritabilidade, medo. Pensamos no oposto de calma, tranquilidade e paz.
A verdade é que uma certa dose de ansiedade é perfeitamente normal no Ser Humano. Segundo o Sistema Nacional de Saúde, “a ansiedade é uma reação normal ao perigo ou ao stress do dia a dia. Pode ser entendida como uma sensação de medo perante uma ameaça ou uma preocupação perante algo que poderá acontecer e que tememos ser negativo (…) Se a ansiedade for exagerada e/ou prolongada, persistindo para lá do evento desencadeador, poderá tratar-se de um problema mais grave, tornando-se uma perturbação de ansiedade.” (in sns24.gov.pt, atualizado em 5/12/2022)
Fobias, ataques de pânico, perturbações obsessivo-compulsivas, ansiedade generalizada e stress pós-traumático são alguns tipos classificáveis da perturbação de ansiedade.
O DIAGNÓSTICO DO COSTUME
Isto já todos nós sabemos, ainda mais neste período pós-pandemia em que os níveis de stress e ansiedade na população subiram exponencialmente. No entanto, não é objetivo deste artigo dizer-lhe mais do mesmo, mas sim dizer o mesmo com muito mais.
Quando vamos a um profissional de saúde a queixarmo-nos de dores generalizadas ou apertos no peito inexplicáveis, é comum que, após uma catrapada de exames de rastreio, o diagnóstico seja: “Aquilo que você tem é ansiedade!”. Seguindo-se a prescrição: “Respire fundo, tenha mais calma, faça caminhadas e tome esta medicação de manhã. É levezinha e não cria dependência. É só para andar mais calmo(a)”. Saímos do consultório com a sensação que temos dentro de nós um bicho que nos perturba a vida.
Até há alguns anos, eu pensava na ansiedade desta forma, como se fosse uma aplicação que fizemos download e instalamos no sistema e que, a partir desse momento, está a ser executada, automaticamente, sem qualquer controlo consciente da nossa parte. Este ponto de vista fazia-me sentir impotente quanto a este bicho denominado de ansiedade.
CARACTERÍSTICAS COMUNS
Foi apenas quando me questionei com a seguinte pergunta que tudo mudou: “E se a ansiedade fosse algo que fazemos e não algo que temos?”.
Quando me coloquei esta questão vezes e vezes sem conta, dia após dia, comecei a sentir-me no controlo de algo que, até há data, estava totalmente fora do meu alcance. Pois se isto é algo que eu faço, então posso não o fazer.
Foi a partir desse momento que comecei a procurar a maneira como as pessoas que tinham ansiedade faziam a ansiedade funcionar.
E apercebi-me que, comparativamente às pessoas que não faziam ansiedade, os ansiosos tinham certas características em comum:
Consideravam-se pessoas ansiosas, ou seja, diziam frases como: “Eu sou ansioso e sempre fui ansioso”. Era uma questão de identidade.
As pessoas com ansiedade faziam-se, recorrentemente, perguntas como: “E se eu falhar?”; “E se eu me sentir mal?”; “E se as pessoas não gostarem?”; “O que é que vão pensar de mim?”.
As pessoas com ansiedade criavam imagens e filmes horrorosos na sua mente acerca de coisas terríveis a acontecerem na sua vida.
MECANISMO AUTOMÁTICO
Como o nosso cérebro é um mecanismo exímio de aprendizagem, que aprende a identificar padrões e depois executa-os automaticamente, criando hábitos e rotinas para seguir os padrões aprendidos, quando o cérebro aprende estes três padrões que fazem funcionar a ansiedade, coloca-os em modo automático. Desta forma, a pessoa nem sequer precisa de pensar acerca de fazer ansiedade. Acorda de manhã e… plim!… ativa-se um padrão que leva a ansiedade a manifestar-se.
A partir do momento em que me apercebi destas três características das pessoas ansiosas, perguntei-me: “E se ensinasse às pessoas a fazerem o oposto do que estão a fazer?”.
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