POLÍTICA
OPINIÃO
Temos vivido frequentes e desconfortáveis tensões institucionais envolvendo os três Poderes da República.
Havia, no Brasil, um clima harmonioso entre os poderes, e estávamos acostumados com ele, raramente confrontado, desde os idos de 1985, época conhecida como início da “redemocratização” do país.
O desequilíbrio que passamos a vivenciar, não resta a menor dúvida, resulta da mudança conceitual do Poder Executivo, a partir de 2019, radicalmente diferente do período anterior.
O longo intervalo de tempo considerado harmonioso (como pregado na Constituição Federal de 1988) oferecia falsa calmaria, ancorado que era em generalizada impunidade, favorecendo astronômicos desvios de recursos do contribuinte e intenso uso político de empresas estatais.
O país foi direcionado para destruição do sistema de saúde, degradação da economia, deterioração da educação, insegurança pública e jurídica, encarecimento da produção, desindustrialização e empobrecimento.
Chegamos perto da insolvência.
Diante de quadro quase dantesco, a sociedade percebeu o astronômico preço de manutenção de uma desastrada harmonia.
Até que certo dia, a indignação que crescia no brasileiro fomentou, inconscientemente, a construção da Operação Lava Jato, marco zero da percepção popular de que o país poderia ser reconstruído em bases de valor.
Sabemos as consequências dessa libertadora Operação, completamente ambientada em instância jurídica inicial, mas em perfeita sintonia com a sociedade brasileira.
Essa nova concepção de país estimulou a esperança no brasileiro, que passou a exigir valores e princípios nos atos oficiais de todos os poderes e decidiu não pagar o exorbitante preço pela harmonia entre eles. Resultados das eleições de 2018 foram reflexos dessa decisão.
A partir de 2019, a harmonia não mais foi aceita a qualquer custo.
Enquanto o conceito, estabelecido por uma sociedade brasileira tornada politicamente ativa, não for amplamente entendido e aplicado pelos Poderes da República, conviveremos entre embates e tensões institucionais.