Faltando uma semana para as eleições municipais, campanhas se aceleram na expectativa de conquistar votos. O eleitor, por sua vez, é convencido de que ganha poder e, ingenuamente, se imagina valorizado.
Esse é o modelo da campanha política brasileira. Partidos políticos dominando o cenário e interessados somente no acesso à recursos públicos e em sua própria evolução; maioria de candidatos sem um mínimo de capacitação para exercer a função para a qual concorre e maioria de eleitores preocupada com as benesses que pode extrair do vencedor.
Apesar de os discursos em público enaltecerem o coletivo, o jogo é essencialmente voltado para a obtenção de vantagens individuais (seja para os líderes dos Partidos políticos, para os candidatos ou para os eleitores).
Uma farsa da qual não há escapatória.
O processo eleitoral evolui, nessa etapa final, para o protagonismo do eleitorado que, em sua grande parte, aprimora seu sistema de seleção construído no subconsciente, impregnado do desejo de sobrevivência. Então, a seleção, invariavelmente, começa pelo indivíduo tentando responder as seguintes indagações:
– Qual dos candidatos já me ajudou?
– Qual dos candidatos pode vir a me ajudar?
– Que vantagens obterei, se esse candidato vencer?
A seguir, o eleitor passa a fase coletiva, que raramente ultrapassa os limites familiares:
– Qual dos candidatos já ajudou minha família?
– Qual dos candidatos pode vir a ajudar minha família?
– Que vantagem minha família obterá se esse candidato vencer?
Ao final dessa enquete, a seleção do candidato se conclui e o destino do município (limitado ao eleitor e família) é encaminhado.
A disputa, como se vê, gira no entorno de quem tem mais bondoso coração e se sente capaz e feliz em ajudar as pessoas. Esse é o cenário aceito sem hesitação pelo eleitorado, principalmente nos municípios do interior do país.
Porém, emerge desse modelo questão crucial para os municípios: não há nexo causal entre bom coração e competência administrativa. Quando, por coincidência, as duas características convivem, o município prospera. Quando não, o que ocorre na maioria dos casos, a decadência se instala.
Nessa estrutura, a soma das partes não representa o conjunto total que, desconectado e desorganizado, gora.
A contumaz manutenção deste modus operandi permanecerá destruindo o futuro de muitos municípios que, sem capacitação administrativa turvam o horizonte, empurrando a conta para as vindouras gerações.