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PAULO ROCHA: PORTOS BRASILEIROS OU ARMAZÉM DE CARGAS?

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PORTOS BRASILEIROS OU ARMAZÉM DE CARGAS?

 

Segundo a projeção do Plano Nacional de Logística e Transporte (PNLP), até o ano de 2042 a demanda para os portos brasileiros tende a crescer 92%. Para que esse crescimento ocorra de forma ordenada, é preciso que a estrutura e administração portuária seja aprimorada no país.

Existem 36 Portos Públicos organizados no Brasil. Nessa categoria, encontram-se os portos com administração exercida pela União, no caso das Companhias Docas, ou delegada a municípios, estados ou consórcios públicos. A área destes portos é delimitada por ato do Poder Executivo. Dados do Banco Mundial mostram que um container leva uma média de 13 dias para ser exportado do Brasil. Desses 13 dias, 6 são devidos aos trâmites burocráticos.

Atualmente, no Brasil, as cargas possuem um período de armazenagem sem custo, para trânsito destinado a outras áreas alfandegadas, justamente para suprir o tempo gasto com burocracias. Porém, esse tempo na maioria das vezes é ultrapassado, gerando um custo de armazenagem não previsto. Essa situação prejudica o lucro da empresa envolvida na importação ou exportação”.

Segundo um levantamento da Confederação Nacional de Indústria (CNI), o custo adicional relativo aos processos de armazenagem nos portos brasileiros chega a R$ 4,3 bilhões por ano. Essa realidade é um problema quando se trata de comércio exterior, pois prejudica a competitividade portuária, fator importante para o desenvolvimento econômico.

Para garantir a manipulação eficiente das cargas destinadas ao transporte, o que depende muito do trabalho da logística portuária, os portos brasileiros não deveriam funcionar como armazém de cargas. São necessárias áreas retroportuárias e acesso ordenado, para garantir velocidade no embarque ou desembarque de cargas. De forma geral, a logística portuária se encarrega de transportar a maior carga, no menor espaço temporal e custo possível. O cenário descrito é considerado ideal, porém distante da realidade brasileira. Considerando que o Brasil possui uma economia baseada na exportação, se esse processo não é bem realizado, o desenvolvimento é prejudicado.

 

LOGÍSTICA PORTUÁRIA

 

 

O arranjo da logística portuária subdivide-se em três categorias: Complexo Fixo, Administração e Operação e carece aprofundamento da análise de cada uma delas para melhorar o sistema portuário de modo geral. Sem essa avaliação e alteração imediata em alguns pontos, o Brasil ficará ainda mais para trás em relação a outros países do mundo.

A categoria complexo fixo, compreende todas as estruturas para funcionamento da logística portuária. Inclui instalações como terminais portuários, cais, armazéns, áreas retroportuárias e todo o maquinário envolvido. Considerando a finalidade desse setor, o complexo fixo é parte essencial para que o manuseio da carga seja ótimo. A categoria administração, é o ponto chave da logística portuária.

Refere-se aos órgãos encarregados da gestão dos portos. Em conjunto, eles gerem desde o que diz respeito ao operador portuário até a modernização dos sistemas presentes no porto. Pode-se citar como exemplo as áreas destinadas à docagem, também conhecidas como marinas. Elas desempenham variadas funções como carregamento/descarregamento, abrigo e reparo de embarcações.

Esta é a categoria de operação das mais primordiais para melhoramento do sistema portuário brasileiro. Nesta categoria ocorre a execução da logística programada previamente. Compreendem-se como peças desse setor, por exemplo, os operadores portuários e os rebocadores. Os operadores trabalham na manipulação de maquinários e cargas. Enquanto isso, os rebocadores são barcos projetados para auxiliarem as manobras de embarcações.

 

PORTOS À DERIVA

 

Ao longo dos anos os portos brasileiros passaram a operar como uma espécie de armazém de cargas o que diminui sua agilidade de modo geral. Entendida a complexa estrutura de um sistema logístico portuário, é importante observar a conexão entre as partes citadas. Como em um tripé, se uma das categorias estiver fragilizada, as restantes não funcionarão bem. Não se pode pensar, por exemplo, em um ótimo serviço de operação, com um complexo fixo deteriorado e uma administração insuficiente.

O sistema portuário brasileiro é burocrático do ponto de vista de logística. Isso se deve à lentidão dos processos de emissão documentária, além de redundância em vários deles.

Todos os acessos, como os ferroviários, rodoviários e por meio de dutos, são extremamente importantes para garantir a agilidade dos Portos.

 

OUTROS PORTOS DO MUNDO

 

Segundo ranking da Conferência das Nações Unidas, o porto de Shanghai é o mais bem conectado do mundo em 2019. Pode ser considerado um gigante da logística. Durante nove anos, o porto chinês ocupou o trono no ranking de movimentação de carga por contêineres com maiores volumes anuais. Portos de contêineres logisticamente semelhantes ao de Shanghai são indispensáveis para a minimização de custos comerciais e promoção de um desenvolvimento sustentável.

Outro porto de referência é o Porto de Roterdã, considerado o principal porto europeu, cinco refinarias e algumas indústrias químicas – concentram no próprio porto complexos industriais para facilitar a exportação. Além disso, o porto holandês é conhecido por possuir um sistema totalmente automatizado, com cargas controladas em tempo real. Essa característica otimiza muito os processos e evitam perdas, tornando o porto de Roterdã referência em logística portuária. No nosso País são poucos os Portos que possuem zonas industriais ou comerciais anexas, muito embora exista legislação que as ampare.

Nos EUA, o porto de Oakland também deveria ser uma referência ao governo brasileiro. Esse porto, em busca da atração de mais cargas conteinerizadas, apostou seu investimento em formas de reduzir os custos de seus clientes. Localizada em um local de mercado disputado, destinou a investimento US$ 1 bilhão para aumento de produtividade.

 

PAULO CÉSAR ROCHA é especialista em infraestrutura, logística e comércio exterior com mais de 50 anos de experiência em infraestrutura, transportes, logística, inovação, políticas públicas de habitação, saneamento e comércio exterior brasileiro. Mestre em Economía y Finanzas Internacionales y Comércio Exterior e pós-graduado em Comércio Internacional pela Universidade de Barcelona. É mestre em Engenharia de Transportes (Planejamento Estratégico, Engenharia e Logística) pela COPPE-UFRJ. Pós-graduado em Engenharia de Transportes pela UFRJ e graduado em Engenharia Industrial Mecânica pela Universidade Federal Fluminense. Tem diversos livros editados nas Edições Aduaneiras.

 

[email protected] www.revistadiaria.com.br
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