Comentei, em artigo publicado há cerca de uma semana (acesse a matéria no link disponibilizado ao final), o precário resultado entregue pelo sistema de ensino de Barra do Piraí, tendo como base dados divulgados pelo Tribunal de Contas do Estado do Rio de Janeiro em seus Estudos Socioeconômicos dos Municípios Fluminenses.
Quando 90% de todos os alunos da Rede de Ensino Municipal não conseguem alcançar adequada proficiência em Português e Matemática, algo muito grave está ocorrendo na estrutura da Rede de Ensino.
A fragilidade se acentua na medida em que o ciclo educativo se aproxima do final. Apenas 1% dos alunos do 9º ano da mesma Rede de Ensino alcançaram adequado nível de proficiência em Português e nenhum (0%) em Matemática.
Para agravar o cenário, mesmo com o significativo déficit de desempenho as aprovações se aproximaram de 100%, o que não faz qualquer sentido. O atual conceito para outorga de diploma desconsidera conhecimento.
Não reduzindo a responsabilidade de Barra do Pirai pelos fracos resultados, essa deficiência se manifesta também nos sistemas de ensino de outros municípios da região e do país. Basta acompanhar os resultados no Pisa – Programme for International Student Assessment, para verificar os baixos desempenhos, obviamente com algumas raras e honrosas exceções.
A incapacidade de oferecer ensino de qualidade compromete também diversos outros países. Nesses casos, uma simples análise comparativa revela relação direta entre desempenho educacional e nível de desenvolvimento.
Em países desenvolvidos (alta performance no ensino), segundo artigo publicado pelo site Our World in Data e assinado por Max Roser, 9% das crianças, em idade de terminar a escola primária, não conseguem adequada compreensão de leitura. Nos países em desenvolvimento, essa incapacidade sobe para 84% e em países subdesenvolvidos alcança 90%, como mostra o gráfico.
PARTICIPAÇÃO DE CRIANÇAS SEM COMPREENSÃO DE LEITURA EM TÉRMINO DE ESCOLA PRIMÁRIA
A relação direta entre desempenho e renda é também confirmada por outras avaliações, como na aprendizagem em matemática (gráfico abaixo). Maior a renda, regra geral melhor performance.
RELAÇÃO RENDA X APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA
A limitação imposta pela relação renda/aprendizagem não tem se mostrado localizada e condiciona o desempenho educacional de todo um país. A maioria dos estudantes de Marrocos, por exemplo, apresenta resultados inferiores aos apresentados pelos mais pobres estudantes brasileiros, enquanto os mais ricos estudantes brasileiros desempenham abaixo dos mais pobres estudantes de Países Baixos, Finlândia ou Coreia do Sul.
RELAÇÃO RENDA X APRENDIZAGEM EM MATEMÁTICA
PAÍSES SELECIONADOS
Fica evidente o agravamento do déficit educacional em regiões (municípios, estados e países) menos desenvolvidas.
Outra relevante informação divulgada pelo artigo mostra que estudantes de baixa renda obtém melhores resultados de aprendizagem quando vivem em países desenvolvidos. Em outras palavras, crianças em ambientes mais exigentes aprendem mais. Como consequência, tornam-se mais competitivas e contribuem para o desenvolvimento da família, com reflexos no município, reduzindo as assimetrias sociais.
Não resta dúvida de que o paralelismo entre renda e desempenho é injusto, mas não pode ser aceito como dogma, condenando à insuficiente aprendizagem os estudantes oriundos de famílias de baixa renda. Romper essa nefasta associação é o mais importante desafio do sistema de ensino público municipal.
Infelizmente os resultados, como vimos, sinalizam similaridade entre os desempenhos do ensino barrense e das regiões subdesenvolvidas.
Não há alternativa para Barra do Pirai, a não ser resgatar a qualidade do ensino público municipal.
https://revistadiaria.com.br/barra-do-pirai-e-o-precario-desempenho-revelado-pelo-tce/
Luiz Bittencourt – Eng. Metalúrgico/UFF; M. of Eng./McGill University/Montreal/Canadá; Pós-graduado em Comércio Exterior/Universidade Mackenzie/SP; Consultor em Relações Institucionais.