A Pouca Evolução das Cidades Brasileiras
Diferentemente das cidades europeias, que foram criadas para organizar uma comunidade com preocupação no bem-estar das pessoas, no Brasil as cidades foram desenvolvidas para ocupar território, explorar riquezas e enviar recursos para a coroa. Parte dos primeiros moradores não vieram para ficar, e essa falta de enraizamento teve consequências duradouras.
Ainda no século XXI, temos cidades que mantêm esse formato inicial, criadas para explorar riquezas que têm data para acabar. Quem administra essas cidades muitas vezes não tem preparo ou interesse em planejar o futuro. Além disso, muitas cidades dependem de uma única cadeia produtiva; quando essa cadeia entra em crise, a cidade inteira sofre. Outras cultivam apenas produtos de baixo valor agregado, resultando em uma economia de subsistência.
Nos últimos anos, o design urbano parece ter sido planejado mais para atender aos veículos do que às pessoas. É hora de repensar esse modelo. A aposta em criar cidades inteligentes é, muitas vezes, uma falácia, mais marketing do que realidade. Essas iniciativas não terão sucesso sem uma transformação cultural profunda, e essa transformação deve focar em criar cidades para as pessoas, algo que ainda não acontece.
Estamos em um período de renovação das nossas gestões, e é importante debater com profundidade as questões estruturais: o crescimento do número de pessoas catando lixo, pedindo ajuda nos semáforos, os grandes vazios urbanos, a qualidade da infraestrutura, a poluição dos cursos d’água nas áreas urbanas.
O principal urbanista brasileiro, Jaime Lerner, que também foi governador do Paraná, acreditava que a cidade deve ser um ponto de encontro. No entanto, na maioria das cidades brasileiras, ainda predomina uma cultura que remonta à época do descobrimento, focada na exploração e ocupação desordenada, ao invés de promover o bem-estar e a integração das pessoas.
Hélio Mendes é autor de “Planejamento Estratégico Reverso” e “Marketing Político Ético”. Ele atua como consultor de empresas e já foi secretário de planejamento e meio ambiente na cidade de Uberlândia/MG. Além disso, é palestrante em cursos de pós-graduação e na Associação dos Diplomados da Escola Superior de Guerra, e membro do Instituto SAGRES – Política e Gestão Estratégica Aplicada, em Brasília.