VENEZUELA VENCEU?
A Venezuela trouxe para o planeta, especialmente para a América do Sul, um problema até então latente, mas de incomparável gravidade. Realizou eleições para a Presidência da República e declarou o vencedor em processo questionável.
Países e blocos econômicos, em clara mobilização internacional de desconfiança, solicitaram informações adicionais para avaliar seu reconhecimento e até hoje, passados sessenta dias, não foram atendidos.
A ONU questionou a divulgação do resultado sem o detalhamento dos dados, “atitude sem precedente em eleições democráticas contemporâneas”. EUA, França e Espanha solicitaram as atas eleitorais, sem sucesso.
As eleições venezuelanas se transformaram em case didático de direito eleitoral internacional, onde houve tudo, menos eleição.
Ao destruir a credibilidade de seu processo eleitoral, a Venezuela derramou suspeita sobre uma variedade interminável de eleições e chamou a atenção da humanidade para a existência de sistemas “políticos” pairando acima de legislações e de valores éticos.
Do lado de cá, a reação do governo brasileiro enalteceu o “caráter pacífico da jornada eleitoral”, defendeu a soberania territorial e se declarou acompanhando o desenrolar dos acontecimentos, o que faz até hoje, preferencialmente sem alarde.
O tempo passa, a memória perde vitalidade e as eleições venezuelanas, corretas ou não, ganham fôlego, caem no esquecimento e a estratégia vence, em detrimento da soberania popular.
O exemplo é degradante e, o que é pior, não há garantias de irreprodutibilidade.